por Redação MundoMais
Terça-feira, 31 de Maio de 2011
RÚSSIA - A VI Parada Ilegal do Orgulho Gay de Moscou terminou com 40 presos nos enfrentamentos entre defensores dos direitos dos homossexuais, grupos neonazistas e policiais. Desde 2006, o grupo GayRussia tenta organizar legalmente uma passeata na capital russa, mas a Prefeitura de Moscou nunca autorizou o evento, alegando que a manifestação “alteraria a ordem pública, pondo em risco a vida de inúmeras pessoas”.
Ativistas dos direitos homossexuais esperavam que o novo prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, finalmente permitisse a realização das paradas, após anos sendo recusada pelas autoridades.
Apesar da proibição, aproximadamente 15 ativistas, metade deles estrangeiros, se reuniram nos Jardins de Alexandre, ao lado do Kremlin, para depositar flores no Túmulo do Soldado Desconhecido.
Por volta das 13h, três ativistas gays – um homem e duas mulheres – abriram uma bandeira arco-íris no centro da Praça Manezh e gritaram “Rússia sem homofobia”. O gesto foi suficiente para causar a ira dos grupos extremistas homofóbicos. Os três jovens foram imediatamente atacados pelos skinheads e, logo em seguida, presos pela polícia moscovita.
Dezenas de pessoas contrárias à Parada Gay foram ao centro da capital impedir qualquer manifestação de ativistas homossexuais. Quase todos os jovens, entre 13 e 20 anos, vestindo camisetas que diziam “Somos russos” e “Orgulho Eslavo”. Declaravam abertamente a televisões de todo o mundo o ódio aos “gomiki”, como são chamados de maneira vulgar os homossexuais. “Sodoma” e “Pederastas” foram outras provocações ouvidas nas ruas do centro de Moscou.
Com seus telefones celulares, falavam com amigos e familiares. “Estamos na Parada Gay. A Polícia já prendeu alguns pederastas (sic)”, dizia um adolescente entre gargalhadas. Alguns jovens preferiram cobrir a cabeça com máscaras semelhantes às do movimento de extrema-direita norte-americano Ku Klux Klan. A saudação nazista também foi vista algumas vezes.
Os atos duraram pouco mais de 20 minutos, mas tiveram continuidade em frente à Prefeitura de Moscou, na rua Tverskaya. Uma ativista dos direitos gays foi interrompida por um grupo de skinheads enquanto dava uma entrevista para jornalistas.
Entre insultos e empurrões, forças policiais chegaram para prender a jovem ativista. Skinheads e pessoas que passavam pelo local, aplaudiram a ação policial. Um dos policiais anti-distúrbios chegou a parabenizar, com um aperto de mão, a um dos neonazistas, diante dos olhos atônitos de turistas e jornalistas. Estima-se que o número de skinheads na Rússia chegue a 100 mil.
Ironicamente, a Prefeitura de Moscou está situada na rua Tverskaya, considerada pela comunidade homossexual como a rua gay da capital russa, devido a um aparente ambiente de menos hostilidade às minorias sexuais.
Fiéis e religiosos da Igreja Ortodoxa Russa também marcaram presença na manifestação. Com cruzes e imagens de santos, criticavam a prática homossexual e “rezavam pelos pecadores”.
Uma jornalista do diário Novaya Gazeta, Elena Kostyuchenko, foi agredida por um ativista contrário à Parada Gay e foi hospitalizada com feridas e hematomas.
Um jovem de 18 anos foi espancado por seis neonazistas numa praça do cêntrico bairro de Kitay Gorod esta tarde, mas nenhum agressor foi encontrado. As autoridades reforçaram as medidas de segurança em todo o centro de Moscou, prevendo incidentes violentos.
“Ao invés de celebrar a diversidade, a capital russa comemorou uma vez mais, e com respaldo oficial, a intolerância e o desrespeito aos direitos humanos”, declarou um jovem russo que preferiu não se identificar.
A participação em manifestações não-autorizadas pode ser punida com até 15 dias de prisão. Em outubro do ano passado, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos multou a Federação Russa em 29.510 euros (67 mil reais) devido à proibição da realização da Parada Gay em Moscou.