por Redação MundoMais
Quinta-feira, 21 de Julho de 2011
MATO GROSSO DO SUL - Rayssa, 31 anos, está internada na Santa Casa de Campo Grande desde o último dia 10, com afundamento de crânio e outras marcas de agressão. Ela foi vítima de um ataque na região da Avenida Costa e Silva, nas proximidades de um supermercado atacadista da Capital sem motivo aparente. Segundo ela, o espancamento foi um ato de homofobia.
A travesti, que prefere ser chamada de Rayssa, conta que no dia 10 de junho, diferente de seu hábito, resolveu ingerir bebida alcoólica com amigas no período da tarde. Quando resolveu ir embora, sentiu-se tonta e, antes de voltar para a república onde mora, decidiu andar um pouco a pé para ver se passava o efeito de tontura que sentia.
Rayssa conta que ao passar na lateral de um grande muro de uma borracharia foi atacada com uma pancada forte na cabeça, que provocou seu desmaio. A travesti não sabe dizer ao certo quanto tempo permaneceu desacordada, mas acredita que aproximadamente 50 minutos, até retornar sua consciência e ser socorrida por um casal que passava de carro e parou para ajudar.
Antes de ser levada para a Santa Casa, a travesti lembra que passou por uma unidade de saúde pública e depois transportada pelo Corpo de Bombeiros para onde permanece internada. Com afundamento de crânio, Rayssa teve que passar por um implante de placa de titânio e agora aguarda para fazer uma cirurgia reparadora no nariz, já que ficou com fratura exposta por conta da agressão sofrida.
Nestes dias que já passou na Santa Casa, Rayssa tem ocupado o tempo fazendo crochê, e já conquistou clientes com seu trabalho. Vindo de uma cidade do interior do Estado, a travesti conta que está em Campo Grande há 15 anos e nunca tinha sofrido violência. Agora tenho até medo de sair daqui e ter que enfrentar as ruas, diz, frisando que não faz programas sexuais. Ela trabalha na própria república de travestis, que fica na região onde fora atacada.
Homofobia
Questionada sobre quais os motivos que teriam levado alguém a praticar a agressão contra ela, a travesti acredita ter sido mais uma vítima de homofobia.
A suspeita de que foi vítima de homofobia é por estar numa região conhecida como "reduto de homossexuais que fazem ponto em busca de clientes para programas". Além disso, Rayssa recorda de fatos que aconteceram com amigas suas e histórias contadas por elas. “Duas colegas que fazem programa e moram na mesma república que eu apanharam alí naquela região. Outra na área central. Isto vem piorando dos últimos sete anos para cá. A gente vê também que muitos estudantes da federal (Universidade Federal) passam com ares de gozação. Não quero acusar ninguém, mas isto é uma grande demonstração de que as pessoas exalam preconceito”, diz.
Segundo relato de Rayssa, há aproximadamente um ano, uma travesti morreu depois de levar uma pancada na nuca, enquanto esperava por clientes.
Direitos Humanos
O Centro de Defesa dos Direitos Humanos Marçal de Souza (CDDH) recebe constantemente reclamações e denúncias de LGBTs relatando violência física e moral. O presidente da entidade, Paulo Ângelo de Souza, relata que muitas vítimas se sentem constrangidas para procurar a polícia e formalizar uma queixa.
Têm casos nos quais este público sofre situação vexatória dentro da própria delegacia ou destacamento militar, porque ainda há policiais não preparados para este tipo de atendimento, e então, eles acabam desistindo. Mas é importante que registrem e façam questão de que conste tratar-se de crime com característica homofóbica, orienta.
Outra opção é procurar o CDDH para formalizar a denúncia. De acordo com Paulo Angelo, Campo Grande e cidades da região norte do Estado são as que estão com mais casos de homofobia, que resultam em violência física e, na maioria deles, o registro acaba ficando apenas como lesão corporal, o que traz prejuízo para dados estatísticos que podem resultar em maior atenção para desenvolvimento de políticas públicas.