por Redação MundoMais
Segunda-feira, 14 de Outubro de 2013
O procurador-geral do Estado da Virgínia, nos Estados Unidos, Ken Cuccinelli, lançou uma proposta de lei bastante polêmica e que vem causando oposição e é amplamente combatida por grupos defensores dos direitos civis. A proposta consiste em proibir modalidades de relação sexual diferentes da vaginal, entre os quais o sexo oral. O argumento principal de Cuccinelli é que desta maneira, os abusos e crimes sexuais seriam melhor combatidos. Em campanha para o Senado pelo Partido Republicano, o político afirma que devem ser coibidos atos sexuais que atentam contra a natureza e que assim favorecerão uma diminuição de crimes como a pedofilia.
A proibição não possui respaldo e parece não ganhar força, uma vez que não existe comprovação que desta maneira os crimes sexuais venham a diminuir. E outra, como seria a fiscalização?
Ao contrário, a lei se torna infundada partindo do pressuposto que praticamente todos que mantêm relações vaginais também praticam sexo oral. A estimativa é que 82% dos homens e 80% das mulheres com idades entre 15 e 44 anos admitem praticar sexo oral. O sexo oral é a atividade que mais se pratica antes da cópula.
Mas as intenções de proibir tais práticas não são atuais. A cultura judaico-cristã condena não apenas o sexo oral como qualquer outra que não leve à procriação. Não apenas as práticas, mas o prazer sexual sempre foi alvo de represálias da igreja e do ascetismo religioso que prega a concepção de que os prazeres mundanos devem ser aniquilados em prol da fidelidade e obediência a Deus. Ao corpo atribui-se o lugar do prazer maléfico, logo, tudo que levasse a pessoa ao prazer era considerado pecado.
O sexo oral assume uma importância cada vez maior no ato sexual. Sem ser imposto, o sexo oral passa a ser algo espontâneo e cria uma ligação íntima entre o casal. O que antes se evitava por conta da ideia de sujo ou asqueroso, o sexo oral rompe com a resistência do moralismo e é entendido pelas pessoas como um ingrediente a mais na transa. Inclusive, o que até então era uma obrigação da mulher em oferecer prazer ao parceiro e satisfazê-lo, as mulheres assumem o seu próprio prazer, se conscientizam de sua sexualidade e admitem gostar do sexo oral.
A cunilíngua, a estimulação dos genitais femininos, é cada vez mais solicitada pelas mulheres que descobrem e se autorizam a sentir um prazer antes cerceado. A estimulação aos genitais masculinos denomina-se felação. Pesquisas revelam que 75% dos casais experimentam a estimulação oral-genital, sendo que 40% praticam esta modalidade com frequência, conforme informa a psicanalista Regina Navarro Lins em seu livro “A cama na varanda”.
Os conceitos religiosos que determinam mulheres classificadas como “Eva” ou “Maria”, ou seja, mulheres sem escrúpulos e mulheres respeitáveis, fazem com que muitos homens evitem esta prática com as namoradas ou esposas, pois é encarado como um prazer proibido e que corromperia com a integridade de suas companheiras. Conceito antiquado e que revela uma mentalidade sórdida que considera a mulher como um ser limitado, alvo de preconceitos e discriminações.
Shere Hite, sexóloga e feminista teuto-americana e que estudou a sexualidade feminina, explica que muitas mulheres se sentem inibidas e envergonhadas na prática da cunilíngua em relação à própria vagina. O cheiro, limpeza e as impressões do parceiro quanto ao corpo dela são preocupações recorrentes. Na felação a preocupação está no esperma e o fato de muitas mulheres não se sentirem à vontade em engolir. Diga-se de passagem, a prática da felação não precisa, necessariamente, culminar em ejaculação.
De fato, me parece lógico que uma vez higienizado, o genital fica limpo e a prática do sexo oral não há impedimentos e este cuidado deve acontecer com homens e mulheres. O mais importante é que o casal deve sempre se comunicar e a prática do sexo oral deve ser satisfatória para ambos.
O sexo oral também é muitas vezes considerado vulgar e em épocas atrás, pecado ou crime. Mesmo diante de todas as sanções, o sexo anal sempre foi praticado, bem como o sexo oral. Os sexólogos americanos Masters e Johnson afirmam que 43% das mulheres casadas já experimentaram o sexo anal, embora a maioria delas não goste muito dessa atividade. Sem dúvida, são os homens os que mais apreciam a prática, embora algumas mulheres relatem alcançar assim o orgasmo.
Devemos fazer aquilo que nos sentimos bem. No sexo não existe limites, mas os limites de cada um devem ser respeitados e se o novo e diferente for possível, por que não experimentar? Existem muitas pessoas que nunca experimentaram o sexo oral e depois que consumaram a prática obtiveram mais desenvoltura com o parceiro e experimentaram o prazer com mais liberdade. O sexo oral ou anal é mais uma maneira de incrementar e dar vazão ao desejo.
Se o casal gosta e o desejo é recíproco, ótimo. Não existe moral corrompida, tampouco não é diminuição, submissão ou desvalorização da mulher, assim como muitos pensam. Pelo contrário, tais práticas podem apimentar ainda mais a relação do casal, desde que os dois queiram e se sintam à vontade. Qualquer prática sexual só se justifica se for prazerosa para ambos os parceiros.
Não me parece que proibir o sexo oral ou qualquer outra prática sexual venha a diminuir os crimes de pedofilia ou a violência sexual, como por exemplo, a violência doméstica que é um meio de sujeitar o outro e implicitamente se apoderar do outro. A violência diminuirá quando a ideologia de dominação e opressão acabar e a parceria entre homens e mulheres forem a realidade vigente nas mentalidades e na sociedade. A propósito, uma sociedade reprimida vai se deformando e propicia distorções sobre o sexo.
Breno Rosostolato é psicólogo e terapeuta sexual*