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Luta diária

Conheça transexuais que venceram o preconceito no mercado de trabalho.

por Redação MundoMais

Segunda-feira, 10 de Março de 2014

Quatro décadas depois de feministas transformarem sutiãs em meias-taças de fogo por direitos iguais aos dos homens, um grupo estimado em 5.000 brasileiras ainda busca espaço para comemorar o Dia Internacional da Mulher.

As transexuais até hoje tentam convencer familiares de que gênero (masculino ou feminino) se define pelo que sentem —e não pelo que carregam entre as pernas. Na batalha diária pelo reconhecimento como mulheres, o embate mais difícil é com os patrões.

Transexuais no mercado de trabalho

Faltam dados oficiais sobre o grupo, mas militantes afirmam que 90% das pessoas que creem ser mulheres em corpos de homens se prostituam para sobreviver. Não vão para a rua por escolha, mas por falta de opções.

Também há quem consiga romper esse padrão, como é o caso das entrevistadas desta reportagem: uma advogada, uma professora, uma assistente social, uma funcionária do Sesc e uma cartunista conseguiram impor sua feminilidade no mercado de trabalho paulistano. Todas concordam que, além do preconceito, a principal barreira do mercado é a burocracia.

Diferente da medicina —só na capital, 12 cirurgias para mudança de sexo são feitas por ano pelo SUS—, a lei brasileira ainda não regulamenta critérios para alteração de nomes em documentos. Isso já acontece em países como Argentina e Portugal.

Assim, apresentar RG e CPF com nomes masculinos é motivo de constrangimento e frequentes "nãos", dizem as entrevistadas. "Pedem certificado de reservista, mas me vejo mulher desde criança, não tenho esse documento", diz uma delas.

BISTURI

Para o psiquiatra Alexandre Saadeh, coordenador do laboratório que atende a este público no Hospital das Clínicas, "embora tenham corpos masculinos, as transexuais se percebem como mulheres e têm de ser tratadas assim".

Seu trabalho é acompanhar as pacientes que decidem encarar cirurgias de mudança de sexo.

Além da satisfação pessoal, o bisturi é também um caminho para encontrarem harmonia entre a forma como se percebem e a maneira como são vistas por aí.

"Transexualismo não define personalidade", diz o médico, que há 20 anos trabalha com o grupo. "Considerá-las promíscuas é o mesmo que dizer que pessoas de olhos azuis são emotivas. Não faz sentido."

Segundo Saadeh, o consenso internacional é de que uma em cada 40 mil pessoas nascidas homens seja transexual. Conheça cinco delas a seguir.

Ariadna Seixas, 28, trabalha como orientadora de público no SescAriadna Seixas, 28, trabalha como orientadora de público no Sesc

LIGUEI DIZENDO QUE ERA TRANSEXUAL

Apesar da sobrancelha e das unhas feitas, Ariadna Seixas, 28, ainda vestia roupas masculinas quando soube que passou no concurso de emprego do Sesc Consolação. Foram dois anos entre a aprovação e o início do batente —tempo suficiente para tomar hormônios e mudar seu rosto em busca da aparência que considerava ideal.

O coração apertou em 2012, quando começaria, enfim, a trabalhar. "Eu tinha feito o processo de um jeito e de repente estava de outro", diz.

Tirou maquiagem, prendeu os cabelos pretos e pôs roupas largas. No Sesc, assinou a papelada do novo cargo: funcionária do vestiário masculino.

Foram duas horas de choro dentro do ônibus que a levou do centro até sua casa, na zona norte. "Não dormi. No dia seguinte, liguei dizendo que era transexual. Que não queria uma vaga masculina. Que não conseguiria entrar naquele vestiário." Ouviu: "Vou verificar".

O telefone tocou em dois dias. "Sua vaga foi realocada. Agora o seu trabalho será como orientadora de público, com crachá e uniforme femininos."

Em seu primeiro emprego "depois da transição", ela interage com centenas de visitantes todos os dias. "Sei que é uma sorte encontrar um trabalho assim e não precisar me esconder."

Além de trabalho, Ariadna encontrou um marido, com quem vive há dois anos. "Ele sempre foi heterossexual. Claro, ué. Eu sou mulher."

A empresária e advogada Márcia Rocha, 49, sócia do clube Athletico PaulistanoA empresária e advogada Márcia Rocha, 49, sócia do clube Athletico Paulistano

SOU TRAVESTI, RICA, FINA, CHIQUE E MARAVILHOSA. E LÉSBICA.

A empresária e advogada Márcia Rocha, 49, sócia do clube Athletico Paulistano

"Falam que sou corajosa", diz Márcia Rocha, 49, combinando blusa florida e saia de renda com brincos dourados."Sou é covarde. Fiquei no armário por 30 anos."

Márcia foge aos clichês transexuais. É sócia do Club Athletico Paulistano, no Jardim América, formou-se em direito na PUC, tem quatro empresas no ramo de imóveis e transporte e acaba de por à venda um casarão avaliado em R$ 8 milhões na região de Alphaville.

Parte do dinheiro vem de berço: é filha de pai construtor ("minha casa vivia cheia de ministros") e "mãe rica".

"Gosto de me sentir mulher e externar isso", diz, bebendo suco de tomate no La Casserole, restaurante fino no Arouche. Ela dá um gole e avisa: "Mas sou lésbica. Curto mulheres."

A mudança corporal começou durante o casamento de oito anos com a ex-mulher. Três cirurgias e 880 ml de silicone foram a gota d'água. "Eu já estava menina demais e ela perdeu o tesão. Foi difícil, éramos muito unidas."

Hoje, diz-se travesti. "Dizem que pega mal. Quero mais é que pegue mal para quebrar logo o estigma. Sou travesti, rica, fina, chique e maravilhosa."

A amazonense Fernanda Moraes, 42, é formada em Serviço Social pela UnespA amazonense Fernanda Moraes, 42, é formada em Serviço Social pela Unesp

NA FACULDADE, SEMPRE DIZIAM: 'NOSSA, VOCÊ NEM PARECE'. ODIAVA.

Fernanda Moraes, 42, fazia medicina na Universidade Estadual do Amazonas quando decidiu vir para São Paulo, em 1999. Calma e articulada, ela tira o cabelo do ideograma tatuado no ombro e diz que mudou de Estado para conseguir ser "plenamente" quem era.

"Entrei na faculdade mulher. Sempre diziam: 'Nossa, você nem parece [uma travesti]'. Odiava".

Para ser aceita numa faculdade paulistana, precisava de um estágio. "Ninguém quis me contratar. Diziam que a vaga estava fechada e, semanas depois, eu via colegas sendo recrutadas."

Foi morar com uma cafetina na rua Paim e se prostituiu por cinco anos. "Nunca gostei. Demorou até as portas se abrirem." Desistiu da medicina, formou-se em Serviço Social pela Unesp e trabalhou por quatro anos na prefeitura, atendendo prostitutas e moradores de rua. "Vi muitas colegas morrendo. Um dia, não aguentei mais sofrer e pedi demissão." Hoje, busca um novo emprego formal em sua área.

Seu pai, católico, diz que a ama, mas que não aceita. "Da última vez, peguei sua mão e disse: 'Sou ou não sou uma mulher bonita?". Ele só sorriu.

Bianca Soares, 38, dá aulas de inglês em escolas públicas e particularesBianca Soares, 38, dá aulas de inglês em escolas públicas e particulares

SOU MAIS RESPEITADA NA ESCOLA QUE NA NOITE

"Existe uma pirâmide LGBT. O T é a letra mais vulnerável", diz Bianca Soares, 38, professora de inglês há 20 anos. Ela dá 50 horas de aulas semanais em quatro escolas, públicas e particulares.

"Fiz concurso antes de me transformar. Não sou boba, o estereótipo é enorme", conta, antes das aulas noturnas na Escola Estadual Henrique Fernando Gomes Estudante, em Barueri.

Bianca recebeu a reportagem de saia dourada e uma blusa que, olhando com cuidado, mostrava um sutiã de oncinha. "Querido, se a aula for boa, não vão ser saia, cabelo ou peito que farão diferença, tá? E eu imponho respeito."

Durante a entrevista, alunos cumprimentavam. "Oi, prô". "Boa noite, profa."

Ela fica satisfeita. "Sou rígida", diz.

Longe dali, é conhecida como Bianca Exótica. Ganhou fama em São Paulo com performances em clubes, desfilou para Alexandre Herchcovitch e foi entrevistada por Jô Soares.

"Mas sou mais respeitada na escola do que na balada", diz, sempre segura. "Não me sinto mais exótica. Sou uma mulher normal. É esse o meu prêmio".

A cartunista Laerte,62, usa sutiãs com enchimento e vai colocar silicone em junho.A cartunista Laerte,62, usa sutiãs com enchimento e vai colocar silicone em junho.

VOU COLOCAR SILICONE EM JUNHO

"Gosto de ser chamada de ela, 'a Laerte'. Sou uma mulher, mesmo que minha mãe não me trate assim", conta, entre um café e dois pães de queijo, a cartunista Laerte Coutinho, 62.

Faz cinco anos desde a primeira vez em que apareceu de saias. Há mais ou menos um ano, usa sutiãs com enchimento. Não será por muito tempo. "Vou colocar silicone em junho, mas ainda não sei quanto", revela.

Ela explica que o termo crossdresser foi útil enquanto se assumia publicamente. "Era sutil. Mas, mais tarde, vi que era um termo classista em relação às travestis. Crossdresser é classuda, travesti é suja. Então virei travesti."

Ao contrário do que costuma acontecer, a transição lhe rendeu visibilidade. "Recebi convite até da Playboy." Acabou aparecendo nua (mas sem mostrar tudo) na revista Rolling Stone. "Foi um nu real, meu corpo não dizia 'foda-me'."

Agora atua também como ativista. "Pedimos direitos que se estendam à sociedade inteira, não a só um grupo. Quero que os filhos do [deputado federal] Jair Bolsonaro também possam ser gays, lésbicas, trans, o que for. E o Estado não pode interferir."

AGÊNCIA EXCLUSIVA TEM POUCAS VAGAS

Fundado no ano passado, o Transempregos - transempregos.com.br - é o primeiro site do Brasil com vagas exclusivas para travestis (homens que oscilam entre os gêneros feminino e masculino) e transexuais. Manter-se no ar é o maior desafio. "Há poucas vagas. Estamos nos reunindo com grandes empresas para garantir anúncios frequentes e de qualidade", diz uma das fundadoras.

Fonte: Folha de S. Paulo

16-03-2014 às 20:28 vani tv europe
Se até este senhor Laerte. é considerado "travesti" de sucesso, esta matéria realmente, não tem credibilidade alguma, desculpe mas este jornalista, é um palhaço, parabéns às outras, só que matar um leão por dia, dá imenso trabalho, tenho 53 anos, no meu tempo, isso nem pensar, que bom que as coisas, estão mudando, Pra vocês que ficam ai brigando, e se apegando à detalhes, melhor ir pro cinemão, estão precisando...
15-03-2014 às 22:09 Anônimo P/ Marco Aurélio
Ninguém deletou o seu post não, amigo. Ele continua ali em baixo. Esse artigo da revista Mundo Estranho eu já o tenho salvo em meu computador. É muito interessante, também. Uma das explicações do fenômeno da superstição é o anseio humano de tentar controlar a realidade do mundo e da vida. Controlar o incontrolável. Daí decorre toda forma de crendice e pensamento mágico. Amigo isto é, além de psicologia, é antropologia pura. O mais surpreendente em Niels Bohr é o fato dele, um homem absolutamente agnóstico e racionalista, vivendo em uma época de pleno domínio das ideias positivistas(início do século XX), ter se manifestado ser de alguma forma um cientista supersticioso. Até onde sei, Bohr não era positivista, no sentido lato da palavra. Mas, o positivismo, com o seu racionalismo, pretendeu banir do mundo todos os mitos, todas as religiões, todas as crendices e, por conseguinte, todas as superstições que, para os positivistas da época de Bohr, não passavam de "metafísicas retrógradas", uma tremenda perda de tempo e de energia do ser humano, ou seja, um completo "obscurantismo de mentes primitivas". Este era o pensamento geral da época, especialmente em uma sociedade tão desenvolvida científica e culturalmente, como já era a Dinamarca do início do século XX. Bohr era racionalista, sem ser positivista. E o positivismo teve lá os seus exageros, ao defender, com muita ênfase, a razão contra toda forma de superstição, que eles consideravam como algo falso, infantil, primitivo e anticintífico. Nesta atmosfera de predomínio do positivismo, soava estranho, paradoxal mesmo, um cientista manifestar ter alguma superstição ou crendice, como foi o caso de Niels Bohr e sua famosa ferradura da sorte! Por favor, Marco Aurélio, leia o artigo que lhe sugeri abaixo, no blog "Coisa que acontece". Hoje em dia, com o positivismo em franca decadência, os filósofos, psicólogos e antropólogos, mesmo os mais racionalistas, têm uma visão um pouco menos exagerada, radical e intolerante a respeito das superstições e crendices do que tiveram os positivistas de cem anos atrás. Atualmente, eles percebem que a razão humana também é falha e frágil perante o mundo real e que ela não tem a capacidade absoluta de tudo explicar e tudo abarcar.
15-03-2014 às 15:17 Marco Aurélio
Por que você deletou meu post? A matéria já está indo pra lixeira, e vc continua intransigente. Querido Anônimo, a única coisa que encontrei na historinha de Bohr sobre a ferradura é que ele a associa à sorte. Lendo a revista Mundo Estranho encontrei algo sobre afastar ladrão e atrair dinheiro. Tem algo a mais? Me conta!
15-03-2014 às 10:50 Anônimo P/ Marco Aurélio
Desculpe-me, Mundo Mais, pois isto não tem nada a ver com o tema da matéria. Amigo Marco Aurélio, por favor, busque no Google o blog chamado "Coisa que acontece" e o interessante artigo "Superstições e Crendices: origem está na visão mágica do mundo". O texto inicia com uma definição do Dicionário Houiss da Lingua Portuguesa a respeito da acepção de superstição. Niels Bohr recebeu o Prêmio Nobel de Física de 1922. Leia o artigo e você compreenderá o porquê o grande físico dinamarquês tinha uma ferradura pregada na entrada de sua casa.
14-03-2014 às 13:58 Marco Aurélio
Superstição: ideia falsa, crença errônea ou preconceito. O colega diz que é verdade a crendice do renomado físico e ao mesmo tempo a tacha de superstição. De duas uma! Não gosto de ambiguidade, do dúbio sentido. Tenho a ferradura acima do batente da minha porta da sala e acredito também no poder de defesa do objeto assim como a atração de prosperidade! Adoro o estilo rústico de decoração e porque não a proteção!
13-03-2014 às 19:35 Anônimo P/ Coriolano
Sim, amigo, é ele mesmo. Niels Bohr( 1885-1962), físico dinamarquês, um dos formuladores da teoria quântica, ao lado de Max Planck e Erwin Schrondinger. A história da ferradura é verdadeira. Nem os grandes gênios estão livres da superstição!
12-03-2014 às 23:11 ANÔNIMO P/ Gerson
"Inveja"? do latim, inveja, IN VIDIA, significa "ver com maus olhos". Sabe quem eu invejo realmente neste mundo? Invejo um Chico Xavier, um Mahatima Gandhi, um Albert Einstein, um Niels Bohr, uma Irmã Dulce, um Betinho, uma Ivone Bezerra de mello, etc. Mas, neste caso, é uma inveja boa. Alguns psicólogos afirmam que quando nós declaramos a alguém, diretamente, que sentimos inveja dela, este sentimento, que é chamado de "mal secreto", paradoxalmente, deixa de ser algo negativo e condenável, transformando-se em algo positivo, quase uma admiração pela outra pessoa. Portanto, não sinto nenhuma inveja, no sentido negativo da palavra, por ninguém que é rico ou bem sucedido materialmente na vida. Não vesti a carapuça, OK?
12-03-2014 às 22:29 Gerson
Num contexto geral há falhas que devem ser vislumbradas para evitar o travamento da matéria! O mercado de trabalho é concorrido, e há o empecilho de se aceitar a diversidade sexual por razões preconceituosas, então parabéns pela garra dessas mulheres. E, talvez pela razão ou inveja a crítica é destilada!
11-03-2014 às 23:49 Anônimo P/ Márcia Rocha
Minha intenção nem foi tirar os méritos da trans, empresária bem sucedida. Ela e as demais, também. Foi uma bela matéria, digna de elogios, por ter tido o mérito, também, de desfazer estereótipos arraigados em nossa sociedade tão preconceituosa com relação aos LGBT. Tanto assim, que considero sua frase, já citada, apenas um detalhe a ser observado e criticado dentro do contexto maior de sua trajetória pessoal e profissional.
11-03-2014 às 12:37 Parabéns p/ o anônimo abaixo
Que tipo de rico é esse que vemos hoje em dia?! A trava se gabando de sua riqueza como elemento principal de sua felicidade, esquecendo que o bem maior da humanidade é o saber. A verdadeira riqueza é a que está na nossa psique: mente e alma, e não a que é material. Pessoas assim, são daquelas que alcaçaram a riqueza sucumbindo outras à miséria. Pequena infeliz!