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Santo das Nossas Causas!

Banido da igreja católica em 1960, São Jorge é um ícone libertário da causa gay.

por Redação MundoMais

Quarta-feira, 03 de Dezembro de 2014

Os seguidores de São Jorge pouco se lixaram quando Paulo VI resolveu, nos anos 1960, retirá-lo do panteão dos santos oficiais da Igreja Católica. Quem daria importância àquela decisão de um papa narigudo e orelhudo? Entre os argumentos do Vaticano estavam as origens “difusas” e a “precariedade de registros” que documentam a biografia desse jovem soldado do império romano, nascido em uma família cristã do século III e que, nos últimos tempos, transformou-se em um dos ícones do combate à homofobia.

Jorge veio ao mundo na região da Capadócia, uma das províncias da Turquia. O pai, também soldado, morreu em combate. Essa perda resultou na mudança para a Palestina, local de origem de sua mãe. Destemido e corajoso, em pouco tempo ele conquistou honras militares e títulos de nobreza. Veio em seguida a transferência para Roma, onde assumiria cargos políticos de relevo.

De repente, não mais que de repente, Diocleciano teve um surto de paganismo e decidiu eliminar todos os cristãos dos extensos domínios romanos. Jorge rodou a espada, subiu em seu cavalo e irrompeu em praça pública, desafiando o decreto do imperador e os cônsules. A multidão imediatamente notou o carisma daquele militar que ousava defender o cristianismo, no período histórico em que os cristãos serviam de repasto aos leões. Soldados da Corte logo foram convocados para prendê-lo.

PRISÃO, TORTURA E MARTÍRIO

Depois da prisão, tortura e martírio. Espancado, chamuscado com fogo, sangrado e amarrado a torniquetes que esticavam seu corpo, Jorge resistiu a todas as investidas de crueldade ordenadas por Diocleciano. Levado ao imperador após cada sessão de tortura, ele não admitiu em nenhum momento renegar a fé que o movia. O imperador, indignado com tamanha bravura do jovem soldado, mandou que o decapitassem. O dia: 23 de abril do ano de 303.

A convicção de suas palavras e o sofrimento de sua morte levaram a imperatriz Alexandra e o pagão Atanásio, um célebre sacerdote de Roma, à conversão ao culto cristão. Ambos também seriam perseguidos e mortos. O corpo de Jorge foi trasladado de volta à cidade de Lydda, na Palestina, local onde se ergueu sob a égide do imperador Constantino a primeira igreja em louvor ao mártir. O templo foi destruído em 1010 e mais tarde reconstruído pelos cruzados. Novamente a igreja de São Jorge veio ao chão durante a Terceira Cruzada, no ano 1190, por ordens do sultão Saladino. Apenas em 1872 o novo ponto de devoção seria construído sobre sua tumba, mantendo-se até hoje na cidade israelense de Lod, próxima ao aeroporto de Tel-Aviv.

O DRAGÃO QUE BLOQUEAVA O SUPRIMENTO DE ÁGUA

Mil setecentos e onze anos passados da sua morte, o culto a São Jorge permanece imantado de poder. Venerado durante as Cruzadas, a figura do mártir atingiu os confins da Europa Oriental durante a Idade Média, embora sua canonização tenha acontecido muito antes, por decisão do papa Gelásio I, no ano de 484. Até àquela época, a imagem de São Jorge não estava atada à lenda do dragão, que é um relato milagroso surgido em data incerta e possivelmente disseminado oralmente a partir de 1470. O guerreiro teria salvo uma cidade dos sacrifícios humanos diários impostos pelo dragão Stihdjia, que bloqueava o suprimento de água dos habitantes locais. Em gratidão, todas as pessoas abandonaram o paganismo que praticavam pela fé cristã.

Historiadores consideram esse relato um arquétipo mais antigo do que o próprio cristianismo. Há, entre gregos, védicos, germânicos e indo-europeus, várias passagens mirabolantes envolvendo conexões entre dragões, heróis, princesas e bloqueios de água. Contudo, uma coisa ninguém pode negar: São Jorge e o dragão formam um ícone religioso imbatível, exatamente por embaralhar noções essenciais à religiosidade, como mistério, lendas, salvação, heroísmo, desafio e libertação.

Talvez por simbolizar a união entre fé, milagre e coragem, São Jorge foi a imagem popularmente mais cultuada do medievo europeu. O cavaleiro e o dragão surgiam aplicados em mosaicos, afrescos, pórticos, armaduras, ícones, relevos, medalhas e telas, constituindo-se desde então entre as manifestações religiosas mais intensas do mundo ocidental. E o cavalo branco, de onde surgiu? Durante as cruzadas, os cavalos brancos eram considerados animais valiosos e relacionados a soberanos ou comandantes de exércitos. Eqüinos brancos denotavam poder, magnetismo e fidalguia.

E vamos parar de ficar destrinchando a história de São Jorge, porque o bonito dela é exatamente essa aura de intangibilidade, esse halo etéreo, esse apelo esotérico. São Jorge não se explica. São Jorge é.

SÃO JORGE E A GEOGRAFIA

A presença universal de São Jorge continua a impressionar. Levam seu nome uma série de acidentes geográficos, países e cidades como Ilhas Geórgia do Sul, Geórgia (o estado norte-americano e o país europeu), Georgetown (capital da Guiana), estreito de São Jorge (Filipinas), Lago Saint George (Canadá), Baía Saint George (Canadá), Cabo Saint George (Groenlândia), entre dezenas de outras citações. Igrejas e catedrais em louvor ao santo se encontram na Etiópia, Espanha, Alemanha, Suíça, França, Venezuela, Itália, República Tcheca, Eslovênia, Inglaterra, Irlanda, Grécia, Rússia e mais dezenas de outros países. São Jorge ainda é o padroeiro da Catalunha, Inglaterra e Geórgia.

No Brasil, o sincretismo religioso o identifica com Ogum (linha de Angola) ou com Oxóssi (linha keto), misturando altares e ritos. No Rio de Janeiro, a igreja do santo, no centro antigo da cidade, atrai milhares de pessoas que celebram o 23 de abril, data transformada em feriado municipal. O maior reflexo dessa empatia talvez esteja na MPB, concentrada nos compositores Jorge Benjor e Caetano Veloso.

SÃO JORGE COMO INSPIRAÇÃO

O primeiro compôs mais de 30 canções que citam o santo guerreiro. Caetano já musicou a Oração de São Jorge (regravada depois por Fernanda Abreu), além de compor “Lua de São Jorge” e “Divino Conteúdo” (esta, citando vários “Jorges”). Benjor se esmera: ele costuma promover reuniões “jorgianas” em sua casa, quando são convidados exclusivamente os amigos que têm o prenome Jorge.

E pronto. Vamos parar por aqui e ler a Oração de São Jorge. Espadas ao alto, olhos no dragão e corpo ereto. Para quem é ateu e viu milagres como eu, trata-se de uma reza forte. Palavra de quem nasceu no dia 23 de abril. Okê arô! Salve Jorge!

Oração a São Jorge

Eu andarei vestido e armado com as armas de Jorge, para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem, tenham mãos e não me toquem, tenham olhos e não me vejam, e nem em pensamento eles possam me fazer mal.

Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar, porque estou sob as armas de Jorge.

Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com força e grandeza.

E que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos. Assim seja.

(Eduardo Logullo é jornalista, autor de livros e roteirista de televisão. Está preparando o lançamento de um livro sobre a cantora Aracy de Almeida.)

(Fonte: iGay)

06-12-2014 às 01:01 Luis
Eu adoro São Jorge! Força, combate e luz!
05-12-2014 às 22:48 In Recife
Salve São Jorge guerreiro, meu pai Ogum guerreiro na minha Umbanda!
05-12-2014 às 11:47 Etimologia P/ 16:16
Onde minha tia mora? Não mora mais, ela morreu há 5 anos. Na realidade, era minha tia-avó, e morava no bairro paulistano do Pacaembu, num sobradão de dois andares, da década de 20. O terreno, de 1200 metros quadrados, próximo do Estádio, foi vendido para o Grupo Votorantim, da família Ermírio de Moraes, no ano passado, por uma fortuna bastante apreciável, na cifra dos milhões de reais. E sou um dos herdeiros. Só a título de brincadeira: os americanos têm mania de "sótãos", e não de "porões". Porão é coisa de brasileiro.
05-12-2014 às 03:29 Teólogo
Permitam-me uma pequena correção. São Jorge não foi banido da Igreja Católica. Se você consultar o missal romano - livro de orações da missa católica - você encontrará a memória de São Jorge celebrada dia 23 de abril. Embora o missal foi revisto depois do Concílio Vaticano II (1962-1965), a memória não foi excluída e existem muitas comunidades católicas que tem o santo guerreiro como padroeiro.
04-12-2014 às 21:57 Danton
Isso de rebaixar é comum no mundo das ciências humanas, lembram de Plutão, até hoje o coitado ainda entra em pauta por causa de seu rebaixamento.
04-12-2014 às 01:18 Wilson
Pelas reformas do Papa Paulo VI, São Jorge foi rebaixado a Santo menor de terceira categoria (segundo hierarquia católica), cujo culto seria opcional nos calendários locais e não mais em caráter universal. No entanto, a reabilitação de São Jorge como figura de primeira instância, e Arcanjo, lembrando o próprio Jesus Cristo, foi feita pelo Amado e Eterno Papa João Paulo II, que em 2000 conferiu nova relevância a São Jorge, como Santo de primeira instância.
03-12-2014 às 23:00 Jorge P/ Etimologia
Não sabia que o meu nome significava isso aí. Conheço um site que se chama Consultório Etimológico. É muito bom. Vale a pena dar uma olhada. Aprendo muito com eles.
03-12-2014 às 19:42 rodrigo
Salve Ogum! na umbanda e no Candoblé este é o nome de São Jorge, é um dos principais orixás, somente abaixo de Oxalá que é representado por Jesus ... é tanto quanto este último, filho de Deus.
03-12-2014 às 18:42 Felipe
Caros amigos, varias igrejas católicas ainda celebrar a festa de são Jorge. Na arquidiocese de Rio de Janeira, temos a paróquia de São Jorge,, festa de memória de litúrgica. OK! Colegas, precisamos ver e conhecer o calendário das festas, memórias dos santos católicos. bjs
03-12-2014 às 16:47 Salve, Jorge!
Esse papa Paulo VI, foi um tanto desplicente em anular a canonizaçao de um santo com uma biografia tao intensa. De um narigudo e orelhudo, que emsua epoca pessoas assim eram cinsideradas com tendencia criminosa, podia se esperar tudo. Realmente, hoje o santo eh devotado por religioes afro-brasileiras, que nao eh minha linha religiosa, mas respeito e venero Jorge na minha condicao catolica. Mas na contramao do papa incredulo, temos papa Francisco, defensor da inclusao homossexual no catolicismo.