ASSINE JÁ ENTRAR

Eu decido onde fico!

A ativista Sofia revela situação em que se empoderou e constrangeu transfóbico na rua.

por Redação MundoMais

Terça-feira, 05 de Abril de 2016

A estudante de psicologia e ativista Sofia Favero, responsável pela página “Travesti Reflexiva” no Facebook, foi uma das entrevistadas da mais nova edição da revista “Galileu” na reportagem falando sobre “textão nas redes sociais”. E revelou de qual maneira ressignificou a palavra travesti e deixou uma pessoa transfóbica constrangida na rua.

Na reportagem, Sofia defende que toda travesti é ativista e disse que escolheu o Facebook para “refletir” e sensibilizar para as causas trans por ser um veículo de encontro, de troca e conscientização entre cerca de 50 milhões de brasileiros. Ela diz que o foco do seu ativismo é despertar a empatia no outro e torná-lo protagonista de uma luta que não é só dela.

“Travesti e ativista são bandeiras indissociáveis. A travesti é uma pessoa que subverteu as normas que são empurradas antes mesmo do nascimento, com a atribuição de um gênero. Recusar ser homem e ser mulher não é um mero conflito, é perder a própria condição de sujeito e ser considerado antinatural. Dizer que não há certeza alguma dada pelo corpo faz com que a travesti, ainda que não se reconheça dessa forma, seja uma ativista”, declarou.

Dentre as diferenças de ser ativista online e offline, ela aponta para o diálogo abstrato da internet, em que não se sabe o tom usado. "Além do poder que a máquina transfere, é como se o computador fosse convertido em um inibidor da moral. Aqui o certo e errado às vezes se confundem. Não é que esses problemas não surjam pessoalmente, no ativismo offline, mas me parece que virtualmente são mais saturados".

Ela também revelou uma situação em que se empoderou da identidade travesti – comumente dita com a intenção de ofender e de maneira pejorativa – e chegou a constranger um homem transfóbico na rua:

“Faz algum tempo que dois rapazes me viram no ônibus e passaram a discutir abertamente se eu era homem ou mulher. Falavam do tamanho da minha mão, do formato do meu maxilar, do comprimento do meu cabelo, nem a minha altura escapou da averiguação. Eles estavam imersos naquele interrogatório. Tampouco fizeram questão de falar baixo, parecia que aquele tipo de questionamento era bastante permitido socialmente. Me calei, desci do ônibus e nunca mais os vi, mas guardei aquele momento na cabeça.

Recentemente, outro homem fez o mesmo, mas esse foi mais objetivo. Eu estava atravessando a rua e ele perguntou se eu era travesti, numa tentativa de me insultar. “É travesti, é?” perguntou rindo. Respondi que sim, que era travesti. Percebi que o olhar que ele me deu não era mais o mesmo, ficou surpreendido pelo posicionamento que eu tinha tido. Quando me chamavam de travesti de forma pejorativa, buscavam me diminuir. A partir do momento em que eu decidi dizer onde iria ficar e o lugar que o termo travesti ocuparia, sem aquela herança ofensiva, foi que o constrangimento passou a ser do outro, e não meu”.

É por essas e outras que Sofia está entre as 10 páginas de feminismo mais curtidas na internet, com mais de 190 mil. Vale ressaltar que as ativistas Jessica Tauane, do Canal das Bee, Aline Ramos, Que nega é essa?, e Djamila Ribeiro também participam da reportagem.