por Redação MundoMais
Terça-feira, 07 de Junho de 2016
A música é uma arte que não serve só para diversão e entretenimento. É isso que MC Queer deixa claro na primeira frase de sua música "Fiscal", quando afirma que "o fervo também é luta!".
O nome do MC é o mais novo agregado à lista de funkeiros militantes pela causa LGBT, que é algo que já existe há tempos e ele faz questão de deixar claro que não é pioneiro no assunto. "O funk LGBT está muito bem representado por nomes como MC Trans, Sapabonde, MC Xuxu e MC Linn da Quebrada e Lia Clark, que até fazem participação no clipe de Fiscal", falou.
MC Queer cresceu em Bauru, no interior de São Paulo, e brinca que por conta disso teve muito mais influências de viola do que de funk, mas, ainda assim, é no funk se descobriu. As participações são um diferencial no clipe que dividiu opiniões na militância LGBT. Na internet, a música recebeu muitos elogios, mas também recebeu inúmeras críticas como a que MC estaria ajudando a reforçar estereótipos de gênero entre os homossexuais, algo que ele mesmo discordou.
"O clipe tem presença de absolutamente todas as letrinhas do nosso arco-íris. A frase ["tem que ser macho pra c***** para dar o próprio c"], que despertou essa interpretação em algumas pessoas, é coberta de ironia", justificou ele. "Todo o discurso da música foi construído em cima da linguagem do próprio opressor. Eu e muitos personagens nos assumimos orgulhosamente viados e diversos outros adjetivos similares justamente pra subverter o discurso homofóbico."
Ele também se defendeu sobre as críticas de que, por conta da letra da música, ele julgue que todos os homofóbicos são homossexuais enrustidos. "Mas claro que não, fiscal conta apenas uma história de homofobia e não toda história sobre homofobia."
Sobre os movimentos LGBT, o MC diz considerar toda luta válida, mas gostaria de ver mais união na diversidade. "Estamos vendo uma corrente conservadora perigosa em iminência e só vamos vencê-la se nos unirmos de verdade", afirma.
O funkeiro conta que sofreu muito com o preconceito na infância e escondeu a homossexualidade da família por não ter coragem de falar sobre o assunto dentro de casa. Tinha a esperança de que acabasse com a puberdade, mas isso não ocorreu, e ele contou que a agressão mais séria que sofreu foi aos 18 anos. "Eu prefiro não falar muito sobre ela, mas ela também foi meu basta. Meus pais só foram saber disso tudo anos depois, quando eu me assumi tardiamente para eles, aos 20. Foi libertador", disse, e agradece por ter uma família que o apoia muito.
Hoje, afirma que é totalmente partidário do movimento "amar sem Temer", uma expressão que vem sendo amplamente utilizada dentro dos movimentos LGBT, e que se preocupa com a mistura entre política e religião com a existência da bancada evangélica.
"Eles [governo Michel Temer] são um retrocesso para os pequenos avanços que tivemos e uma ameaça para tudo aquilo que ainda precisamos que aconteça na política para que nos sejam garantidos os direitos básicos", conta, e finaliza de forma direta: "Vou lutar e cantar contra isso e contra eles até o fim."