por Redação MundoMais
Sexta-feira, 02 de Setembro de 2016
O senso comum frequentemente coloca de um lado homens brancos machistas e conservadores defendendo o porte de armas, e, de outro lado, gays progressistas e pacifistas defensores de meios não violentos de luta por seus direitos, que se opõem ao armamento da população.
No que diz respeito à organização não governamental Pistolas Rosas, entretanto, isso não é verdade. Para os militantes do grupo, fundado em 2000, o porte de armas é a forma mais efetiva de fazer valer o direito dos gays de simplesmente existir, e de se proteger das agressões físicas e tentativas de assassinato que ameaçam o público LGBT.
Os Pistolas Rosas estão presentes hoje em 45 dos 50 Estados americanos. Eles atuam com base nestes eixos principais:
- Fazendo parcerias com instrutores e academias de tiro para capacitar o público gay a portar e disparar armas de fogo
- Assessorando o público gay a realizar os trâmites legais necessários para conseguir o porte legal de arma
- Defendendo na Justiça gays que enfrentem processos por terem usado armas de fogo
- Fazendo campanhas e publicando artigos defendendo o direito de porte de armas para autodefesa do público LGBT
Apitos versus pistolas
O porta-voz do grupo, Nicki Stallard, contou em artigo de opinião publicado no jornal americano “The New York Times”, em junho, que, quando procurou um curso de autodefesa pela primeira vez foi orientado a levar sempre consigo um apito, para tocar caso sofresse uma tentativa de ataque.
Stallard diz ter se sentido ofendido com o conselho de que, num caso real de ameaça à própria vida, tivesse de esperar que “um benfeitor saísse do escuro para impedir a ocorrência de um brutal crime de ódio”, em vez de defender, ele mesmo, a própria integridade. “Eu não precisaria de um apito, se tivesse um arma”, concluiu.
“Se existe alguém que deve se preocupar com a proteção do direito individual de portar armas é o público LGBT. Temos de parar de pregar a não violência e parar de dar votos a políticos que não nos protegem”. (Nicki Stallard, Porta-voz do grupo Pistolas Rosas, em artigo no jornal americano “The New York Times, em junho)
Atentado de Orlando deu novo impulso
O ataque que deixou 50 mortos na boate gay Pulse, em Orlando, na Florida, no dia 12 de junho, deu nova força ao movimento. Depois da ação do atirador Omar Mateen, que abriu fogo contra frequentadores do local, o número de seguidores dos Pistolas Rosas no Facebook quadruplicou, passando de 1.500 para 6.500, diz Stallard.
Outra publicação americana, o “The Christian Science Monitor” relatou, no mesmo mês em que o ataque foi cometido, o aumento nas vendas de armas de fogo para clientes LGBT. A publicação não apresentou pesquisas e dados abrangentes, mas ouviu a opinião de lojistas.
Aparente contradição
O site americano “Politico.com” lembrou que “os Pistolas Rosas agem com base numa longa tradição americana: a de usar armas, explícita ou implicitamente, para respaldar demandas pacíficas por direitos civis. O movimento pelos direitos dos negros, por exemplo, não era uniformemente não violento. Martin Luther King dizia que mantinha consigo uma pistola, para proteção”.
Os Panteras Negras, um extremo da luta racial, investiram em patrulhas armadas para confrontar as agressões policiais em bairros negros nos EUA, da década de 1960 à de 1980. O grupo chegou a ser considerado pelo FBI “a maior ameaça à segurança interna do país”.
Embora possa parecer um paradoxo, o próprio uso de armas é referido por alguns autores como um dos motivos de êxito da luta não violenta nos EUA. “A tradição da autodefesa armada na história afro-americana não pode ser desconectada do sucesso do que nós chamamos hoje de movimento não violento pelos direitos civis”, diz o historiador Charles E. Cobb, Jr. em seu livro “This Nonviolent Stuff'll Get You Killed” (em tradução livre: essa coisa de não violência vai te matar).
Segundo o FBI - polícia federal americana - os LGBT lideram a lista de vítimas de crimes de ódio nos EUA. Em 2014, foram 150 mil casos por grupo de 1 milhão de adultos - o dobro do risco enfrentado pelos negros no país.