por Redação MundoMais
Sexta-feira, 30 de Novembro de 2012
Paris vai ganhar nesta sexta-feira (30) a primeira mesquita ultraprogressista da Europa. A sala de orações será instalada na casa de um monge budista na perifeira leste da capital francesa. A nova mesquita vai acolher homossexuais, transgêneros, transexuais e feministas. As mulheres serão encorajadas a conduzirem as orações. As autoridades muçulmanas da França condenam a iniciativa.
"Trata-se de uma mesquita radicalmente aberta, uma mesquita onde as pessoas podem vir como são", explica Ludovic-Mohamed Zahed, o iniciador do projeto. Para a primeira oração, nesta sexta-feira, o franco-argelino de 35 anos espera 20 muçulmanos.
Mas o número de fieis dessa mesquita atípica pode aumentar rapidamente, avalia esse pesquisador em antropologia e psicologia. Ele lembra que sua associação "Homossexuais Muçulmanos da França", que conta hoje com 325 integrantes, foi criada em 2010 com um pequeno grupo de 6 pessoas.
Rejeição
Essa iniciativa não teve o apoio de nenhuma instituição muçulmana. Muitos imãs e personalidade do Islã na França acreditam que o projeto vai contra a religião.
"Há muçulmanos homossexuais, isso existe, mas abrir uma mesquita é uma aberração, porque a religião não é isso", avalia Abdallah Zekri, presidente do Observatório dos atos islamofóbicos, sob a autoridade do Conselho francês do Culto Muçulmano, instância oficial do Islã na França
"Nós não culpabilizamos os homossexuais, mas não podemos conceder um lugar a essa prática a ponto de deixar que ela se torne um aspecto da sociedade", afirma Dalil Boubakeur, reitor da Grande Mesquita de Paris. Para ele, essa mesquita não poderá ser reconhecida. "É algo extracomunitário", diz.
Em pleno debate sobre o casamento homossexual, um projeto do governo que deve ser discutido no parlamento no início de 2013 e ao qual os representantes de todas as religiões monoteístas são contrários, a abertura dessa mesquita provoca debates acalorados.
Ainda mais que Ludovic-Mohamed Zahed, que se casou religiosamente em fevereiro com um outro homem - com o qual ele já tinha se casado no civil na África do sul - está associado a essa questão na mídia. No entanto, Zahed garante que "é uma coincidência do calendário". Além disso, esse novo espaço de oração, "que não é uma mesquita para gays", não tem como objetivo celebrar casamentos homossexuais. "Não precisamos de uma mesquita para isso."
Ludovic-Mohamed Zahed comemora o fato de ter começado a receber, além das ameaças, emails com encorajamentos e questões.
Mesquitas abertas as todos os fieis já existem na África do Sul, nos Estados Unidos e no Canadá, mas a de Paris será a primeira na Europa. A associação "Muçulmanos por valores progressistas", lançada em 2007 nos Estados Unidos, recenseou cerca de dez lugares de culto similares na América do Norte.
"O objetivo desses muçulmanos que se autodenominam progressistas não é somente defender uma minoria sexual no contexto de uma interpretação do Islã que eles consideram intolerante e obsoleta a partir de sua experiência da discriminação", explica Florence Bergeaud-Blackler, pesquisadora do Instituto de Pesquisas e Esetudos sobre o Mundo Árabe e Muçulmano. "Eles querem reformar, promover um Islã que inclua valores progressistas", acrescenta.
Apesar de serem poucos, com cerca de 1.500 integrantes nos Estados Unidos, "Muçulmanos por valores progressistas" querem encarnar um "Islã alternativo". "Cada vez mais muçulmanos nos veem como os representantes do Islã do século 21", enfatiza Ani Zonneveld, presidente e co-fundadora da associação.
"Mesmo sendo ainda ultraminoritários e não tendo muito peso na paisagem religiosa muçulmana, eles fazem reflexões a partir de bases teológicas sólidas", aponta Florence Bergeaud-Blackler. Ela acredita que a mensagem deles tem um impacto que não pode ser negligenciado no campo religioso.