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Tolerância mascarada

Socióloga afirma que as escolas não sabem combater o preconceito contra homossexuais.

por Redação MundoMais

Segunda-feira, 04 de Novembro de 2013

Socióloga estuda violência escolarSocióloga estuda violência escolar

A violência nas escolas não é um fenômeno atual. As agressões verbais, físicas, a discriminação e o ciberbullying são situações comuns no ambiente educacional e refletem o que a sociedade machista ainda estabelece como norma: o aluno branco, heterossexual, de classe média e de religião católica que é aceito.

Essa é a opinião de Miriam Abramovay, que coordenou diversas pesquisas da Unesco e atualmente coordena a Área de Juventude e Políticas Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais.

Em entrevista, ela abordou ainda o preconceito e a homofobia dentro do ambiente escolar e a dificuldade das instituições de ensino para lidarem com a questão. Confira a entrevista abaixo.

O que é caracterizado como violência escolar?

É interessante notar que não é só uma violência, mas muitas. Existe uma violência na escola e também a violência da escola. Sabemos que o espaço da escola não é um oásis, não é um local protegido. Então toda a violência que permeia a sociedade está na escola. Mas ela não só é responsável por reproduzir a violência, mas também produzir a sua própria violência.

Eu costumo separar em duas essas violências: a primeira é a chamada violência dura, que é aquela que vem do tráfico dentro da escola, do aluno que leva arma, causa brigas e morte. É aquela violência que encontramos no código penal. Ela chama muito a atenção, mas ainda não é o tipo de violência principal. É a microviolência que está no cotidiano dos estudantes, que é a agressão verbal, o preconceito e em alguns casos a agressão física.

A escola é um local onde as relações sociais são muito tensas, onde se estabelecem vários tipos de problemas, de contradições. Isso acaba aparecendo através do racismo, do preconceito, da homofobia. Geralmente é o aluno branco, heterossexual, de classe média, de religião católica que é aceito, essa é a norma.

E isso pode contribuir para evasão escolar?

A instituição escolar enfrenta muitas dificuldades para lidar com isso. Ela não consegue absorver os seus alunos, principalmente os adolescentes. Muitas vezes acaba o expulsando da escola, não aceitando as suas formas de ser jovem, não trazendo discussões que o interessem.

Existe hoje uma exposição da violência na escola, como brigas que são gravadas e colocadas na internet. Qual é o efeito disso?

Essa sociedade do espetáculo em que vivemos tomou vida com isso. E trouxe o ciberbullying. Não é um fenômeno do Brasil. Temos que contextualizar isso dentro de uma sociedade que precisa aparecer, principalmente os jovens. Fiz um trabalho com gangues de meninas e isso acontece muito, quanto mais você aparece, mais você é notado.

O que me chama atenção é a quantidade de vídeos de meninas, é um fenômeno mais recente e isso é muito grave. Às vezes, uma briga acontece e acaba dentro do ambiente escolar, mas quando coloca no YouTube é uma humilhação global e por muito tempo. É algo muito pouco discutido nas instituições de ensino. Mesmo que aconteça na porta da escola, não importa, são alunos, então precisa ser trabalhado, precisa ser discutido.

Em uma pesquisa divulgada neste ano, quase metade dos professores afirmou que já sofreu agressão dentro da escola. A figura do professor é respeitada?

Quando sai uma pesquisa a gente tem que tomar cuidado, porque é somente uma face da questão e do problema. Existe um problema com a nossa educação, uma questão de não reconhecimento do papel do professor, e não é só por parte dos alunos.

Estou fazendo uma pesquisa agora para o Ministério da Educação (MEC) em escolas públicas e me chamou atenção que não teve nenhum aluno que falou que gostaria de ser professor. Acho que o modelo da escola, como ela está funcionando, não está servindo para o jovem do século 21. Ela acaba sendo uma escola sem interesse, desagradável.

O que é preciso fazer para mudar esse quadro?

Precisamos de uma política pública pensada. Nós não temos até agora um quadro nacional sobre a violência nas escolas. Temos estudos específicos, como por exemplo de bullying. Mas precisamos de um quadro geral para que possamos ter políticas públicas mais efetivas, de uma forma nacional.

E temos que perceber que existem programas contra bullying, para pessoas com deficiência, para colocar a ensino da história e cultura afro-brasileira – que pouco está acontecendo por sinal. Estamos fazendo leis, como se a Justiça fosse resolver a questão. Não é assim. Acho que é preciso colocar em cheque também a formação que é oferecida aos professores. Precisamos mudar essa situação.

Você coordenou algumas pesquisas que incluíam a violência contra os homossexuais em escolas. Há dados atualizados sobre o assunto?

Andei pesquisando e existem algumas pesquisas recentes, mas geralmente elas trabalham com conceito de bullying. E isso é complicado e restringe a ideia. Porque bullying é violência entre os pares. Se há violência com professores na escola, isso não é mais bullying, é violência. Essas pesquisas se restringem porque trabalham com esse conceito, mas que é muito discutível.

A questão da sexualidade é muito complicada, a escola não está preparada para lidar com o tema, e os alunos não estão preparados para não serem preconceituosos. Não podemos nos esquecer que vivemos em uma sociedade machista. Então existe uma série de preconceitos, mas principalmente a homofobia. E ela ainda é escondida pela tolerância mascarada, que é complicada. É ensinado que temos que ter tolerância, mas “tolerar é aguentar” e a relação das pessoas não pode ser de suportar.

Dos preconceitos, ela acaba sendo a mais grave porque permeia a sexualidade de qualquer um. Dos adolescentes, dos jovens, dos professores. E tem um aspecto muito violento, porque essas pessoas recebem apelidos, são motivos de piada. Sofrem tanto que abandonam a escola e isso vemos constantemente.

Como o ambiente escolar deveria lidar com a questão?

A escola não sabe bem como atuar nessas ocasiões, nem quando a coisa acontece. Existe toda uma coisa de prevenção que deveria acontecer nas escolas, mas que não acontece, só acontece quando a situação chega ao extremo. Tudo é levado como se fosse brincadeira, quando na verdade acaba gerando uma dor muito grande.

11-11-2013 às 02:26 Francamente
O nascer de novo podem interpretar até com sentido religioso. Só não vão se suicidar.
11-11-2013 às 02:25 Francamente
Só tem um remédio para os gays serem felizes nesse mundo: nascer de novo! Pq é impossível ser feliz sendo gay. Quem disser que sim, sabe que lá no fundo está se iludindo.
11-11-2013 às 02:21 Francamente para Marco Perdedor
Francamente... dizer que heteros podem andar de mãos dadas, e gays não podem pq vc acha ridículo... é o cúmulo da burrice, ainda mais partindo de um gay! É um gay homofóbico!
11-11-2013 às 02:15 Francamente
Falou tudo aqui: "É ensinado que temos que ter tolerância, mas “tolerar é aguentar” e a relação das pessoas não pode ser de suportar." Muito bom.
07-11-2013 às 23:03 Márcio
Eu, homofobia? Justo quem já perdeu tudo na vida por bullying e preconceito? Simplesmente atravesso a rua diante de uma situação dessa. Pois se quer respeito, que o dê. Tipo "não tô nem aí" é só pra quem não tem noção de que está num mundo onde a maioria é hétero!
07-11-2013 às 01:26 Miguel para Márcio vencedor
E outra coisa, você ainda falou do caso de andar de mãos dadas, não é nem do beijo! O beijo realmente é mais delicado de se discutir porque tem toda aquela história de "o que dizer às crianças?" além de que tem aquelas pessoas que sempre passam da dose e só faltam transar na rua (sejam héteros ou homos), mas um dos mais simples gestos de carinho como mãos dadas e abraços ser repudiado dessa forma? Enquanto vocês pensarem que somos como bichos e que devemos esconder qualquer evidência de nossa homossexualidade, são vocês mesmos que estão perpetuando o preconceito.
07-11-2013 às 01:23 Miguel para Marco vencedor
Por exemplo, onde moro (e acredito ser assim em boa parte do Brasil) mulheres hétero podem andar tranquilamente de braços dados, se abraçar à vontade, tocar no cabelo, ir ao banheiro junto. Já para os homens é muito difícil qualquer toque além de um aperto de mão. Poucos são os casos que em que é "normal" passar dessa fronteira. Tudo isso é CULTURAL. O tempo passa e esses costumes vão mudando e para que isso aconteça é necessário quebrar o preconceito e não perpetuá-lo. Afinal, abraçar um amigo não vai te tornar menos homem, por exemplo!
07-11-2013 às 01:17 Miguel para Marco vencedor
Rapaz, você não percebe que está reproduzindo a homofobia que sofreu sobre elas? Que você tem homofobia internalizada? Um casal hétero andando de mãos dadas é ok, mas um casal homo é uma afronta? Apelação? Perca de noção de espaço? É apenas DIFERENTE! Da mesma forma que você conhece uma pessoa de uma maneira e de repente ela passa a usar óculos e aparelho ortodôntico vai te causar uma estranheza, é estranho ver homossexuais de mãos dadas. Mas é apenas isso: questão de costume. E como melhorar essa situação? Fazendo com que as pessoas se acostumem!
06-11-2013 às 00:41 Marco vencedor
Falamos tanto no sair do armário, mas que a verdade seja dita: hoje vi uma sapata baixinha com sua lady, de mãos dadas andando no centro. Sou gay, mas sinceramente, achei ridículo a cena. Prefiro a discrição ao escancaramento. Odeio apelação; acho fraqueza de espírito e dar pano pra manga para a discriminação. Por mais que queiramos direitos equitativos, não justifica perder a noção de espaço e tempo!
06-11-2013 às 00:33 Paulo Henrique
A escola é uma terra de ninguém, essa é a triste realidade no Brasil.