por Redação MundoMais
Quarta-feira, 08 de Janeiro de 2014
O ano mal começou, as pessoas ainda estão voltando da praia e tudo parece andar bem devagar na cidade de São Paulo. Pelo menos, quase tudo. O preconceito, pelo visto, não descansa e já faz novas vítimas.
Circula no Facebook desde o primeiro domingo do ano (05) um relato de transfobia que foi praticado no sábado (04) no shopping Center 3, em São Paulo. A história não é muito diferente do que estamos acostumados a ouvir: um grupo de quatro amigas transexuais estava no banheiro feminino quando foi abordado pela equipe de seguranças do estabelecimento, que as constrangeu para que saíssem de lá.
Para variar, foram acionados seguranças (homens) para lidar com transexuais mulheres. Ou seja, homens entraram no banheiro para tirar outros homens de lá.
O que os seguranças provavelmente não esperavam é que as quatro amigas se recusaram a sair do banheiro feminino. Afinal, são mulheres - independentemente de terem nascido assim ou não.
Mais uma vez, a equipe de seguranças insistiu para que saíssem, desta vez com seguranças mulheres. As meninas explicaram que não faria sentido usarem o banheiro masculino e, só depois de usarem o feminino, saíram de lá, deparando-se com pelo menos 6 seguranças, aguardando-as na porta do local.
Aline Freitas, uma das vítimas e autora da denuncia no Facebook, conta que parou, pôs a mão na cintura e questionou o óbvio: "Mas pra quê isso?". A resposta dos seguranças, novamente nada original, foi uma série de chacotas e o riso.
Por sorte, o constrangimento que as quatro amigas sofreram não foi em vão. Elas mesmas já agendaram um protesto para às 13h deste sábado, dia 11, no local do ataque (o próprio Center 3) - aquele shopping cheio de gente colorida na Paulista, perto da esquina com a rua Augusta.
Há quem entenda que podemos até mesmo usar a lei estadual 10.948/2001 de São Paulo em nosso favor, já que seu artigo primeiro proíbe "praticar qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordem moral, ética, filosófica ou psicológica".
No final das contas, pode até ser que o Center 3 e seus seguranças não sejam punidos pelas autoridades, mas persiste um sentimento muito positivo com o qual não estamos acostumados: o de que não estamos sozinhos, pois as pessoas estão ao nosso lado nessa luta, sejam elas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais ou não.
Thales Coimbra é especialista em direito LGBT, graduado e mestrando em Filosofia do Direito pela Faculdade de Direito da USP, onde estuda discurso de ódio homofóbico. Fundador e coordenador do Geds - Grupo de Estudos em Direito e Sexualidade.
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