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Para presidente do Inep, Enem 2018 errou ao colocar questão sobre homossexualidade

Em entrevista à Folha, Alexandre Lopes garantiu que avaliação dos candidatos se dará de forma isenta e "mais neutra possível", e acrescentou que objetivo do MEC não é discutir temas "controversos".

por Redação MundoMais

Terça-feira, 22 de Outubro de 2019

A análise dos candidatos do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) se dará de forma isenta. Foi o que afirmou o presidente do INEP (Instituto de Estudo e Pesquisas Educacionais), Alexandre Lopes, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo do último domingo (20). ″Vamos avaliar o conhecimento do aluno, buscar uma prova mais neutra possível”. Lopes, porém, concordou com Jair Bolsonaro sobre o que ele chamou de ideologia de gênero e questões ligadas à homossexualidade no exame e deu a entender que, em 2019, o teste não tratará do assunto.

Para o comandante do INEP, “quando o então candidato e hoje presidente se manifesta, ele reverbera um incômodo de uma parcela da sociedade”. “O INEP erra na mão quando coloca uma questão que gera esse tipo de polêmica”, opina. Lopes acredita que, “se gerou desconforto, polêmica, está errado”.

“Uma questão de prova que entra na dialética, na linguagem secreta de travesti, não tem nada a ver, não mede conhecimento nenhum. A não ser obrigar para que no futuro a garotada se interesse mais por esse assunto. Temos que fazer com que o ENEM cobre conhecimentos úteis”, afirmou o mandatário em entrevista ao apresentador José Luiz Datena no Brasil Urgente, da Band em novembro passado.

A questão à qual Bolsonaro se referiu mostrou um texto sobre “pajubá, o dialeto secreto dos gays e travestis” e que questionava os motivos que faziam a linguagem se caracterizar como “elemento de patrimônio linguístico”.

Em março, o INEP, órgão ligado ao Ministério da Educação para cuidar do ENEM, nomeou uma comissão que tinha como principal objetivo retirar da prova itens que abordassem supostas questões que tratassem de ideologia de gênero. O termo não é usado entre educadores. A portaria da criação do colegiado não informou os critérios utilizados para a análise.

O colegiado teve um prazo para fazer um pente-fino no Banco Nacional de Itens (BNI), que é composto de milhares de questões.

Questionado pelo jornal se o item específico mencionado por Bolsonaro gerou polêmica justamente por tratar de uma temática, a homossexualidade, que parece proibida neste governo, Alexandre Lopes disse que o objetivo do MEC não é discutir temas “controversos” e que eles desviam do “foco”.

“A questão é a forma como aborda. Polêmicas e temas controversos são importantes de discutir na sociedade, mas esse não é o objetivo do ENEM ou do Ministério da Educação nas avaliações, pois há dubiedade. Avalia-se a opinião sobre o tema ou uma habilidade? ENEM não é pesquisa de opinião”, explicou à Folha.

Em julho, o ministro Abraham Weitraub afirmou que “cabeças vão rodar” se existir “qualquer viés ideológico” na prova do ENEM 2019.