por Redação MundoMais
Sexta-feira, 22 de Janeiro de 2021
O juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira, da 3ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio, acatou pedido do Ministério Público Federal e decidiu transferir o caso do atentado à sede da produtora Porta dos Fundos em dezembro de 2019 para a 2ª Vara Criminal Federal.
Apesar da mudança de esfera, Eduardo Fauzi vai continuar preso, acusado de crime de terrorismo. Ele foi detido em setembro do ano passado em Moscou, na Rússia, por estar com o nome na Difusão Vermelha da Interpol, mas ainda não foi extraditado.
De acordo com o portal de notícias russo "Vot Tak TV", Fauzi poderá ser extraditado a partir de 23 de fevereiro, após as autoridades russas analisarem o caso, ou poderá ser protegido como "refugiado político" por não querer voltar ao Rio, alegando que é alvo no Brasil da "vingança dos gays". Por isso, apresentou um pedido de asilo político ao Ministério da Administração Interna da Rússia.
“Ele insiste que os gays querem matá-lo no Brasil. E eles vão tentar fazer isso nas mãos de juízes e carcereiros”, afirmou o advogado de Fauzi, Vitaly Chernykh, ao "Vot Tak TV", em publicação desta segunda-feira, dia 18.
O carioca de 42 anos está preso em Yekaterinburg desde setembro de 2020. De acordo com a imprensa local, ele está bem de saúde e "lê muito".
O portal russo explicou que no país existe uma lei de "proteção dos sentimentos dos crentes" e que Fauzi poderá usá-la para evitar a extradição ao Brasil. À Rússia, ele nega participação na noite em que coquetéis Molotov foram jogados ao prédio do Porta dos Fundos.
"O ataque ao estúdio de cinema foi organizado por adolescentes desconhecidos. Como resultado, ninguém ficou ferido e não houve danos por suas ações. No Brasil, Fauzi foi um ativista, exigiu diminuir a influência da comunidade gay e condenou o notório filme.
Considerando que os gays o odiavam, desencadearam a perseguição e inventaram o caso", relatou Chernykh, que admite haver dificuldade em obter o asilo político.
À mídia russa, Svetlana Gannushkina, presidente do Comitê de Assistência Cívica, frisou que “receber o status de refugiado é improvável para qualquer candidato”, não apenas para Eduardo Fauzi. Segundo ela, por muitos anos na Rússia não houve mais de 500 refugiados reconhecidos. Outros 2 mil têm abrigo temporário.
Em 24 de dezembro de 2019, um grupo arremessou coquetéis Molotov em direção ao edifício onde funcionava a produtora Porta dos Fundos, no Humaitá, Zona Sul do Rio.
De acordo com a acusação, Fauzi teria assumido o risco de matar o vigilante do prédio no momento do ataque. Na decisão, foi decretada sua prisão preventiva. Em setembro de 2020, o TJRJ recebeu do Ministério Público do Rio a denúncia contra ele.
Segundo a denúncia, pelo fato de a porta de acesso ao edifício ser de vidro, o vigilante poderia ser visto pelo lado externo. Para o Ministério Público, a vítima só não morreu porque teve pronta reação, conseguindo controlar o incêndio causado pelo artefato e fugir do imóvel, mesmo a portaria sendo pequena, com apenas uma saída.
A última decisão destaca que o delito foi praticado por motivo fútil, por ter ocorrido discordância em relação ao material artístico “Episódio de Natal” produzido pela produtora, em que foi mostrada uma interpretação de Jesus Cristo como homossexual.
Para o juiz Alexandre Abrahão, da 3ª Vara Criminal do Rio, há indícios mínimos de autoria com base no relato da vítima e de testemunhas, assim como há risco à garantia da ordem pública caso o acusado seja mantido em liberdade.