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Brasileiro gay que fugiu da Ucrânia: “Pessoas LGBT são reservadas lá”

Gabriel Modesto saiu do Brasil há mais de 10 anos e conta como a comunidade LGBT vive e é vista na Ucrânia e em outros países europeus.

por Redação MundoMais

Quinta-feira, 31 de Março de 2022

Gabriel Modesto saiu do Brasil com um sonho: tornar-se médico. O primeiro destino rumo a este objetivo foi a Argentina, onde reconheceu que esta carreira não combinava consigo. “Eu estava no curso de medicina, mas não queria realmente ser médico”, explica. “Quando percebi isso, pensei: ‘no Brasil, não vou conseguir um trabalho tão cedo’. Concluí que, se fosse para começar do zero, que fosse na Europa”.

Foi assim que, após escrever para um amigo ucraniano dizendo que precisava de um trabalho, Gabriel foi aconselhado a ir para a Alemanha. Posteriormente, o que surgiu foi uma oportunidade de lecionar inglês na Ucrânia. “Não estava planejado eu ir para lá [Ucrânia]”. Enquanto homem gay, Gabriel foi questionado sobre como é a experiência de uma pessoa LGBT no país, e a resposta imediata foi: “Eu tinha essa mesma dúvida”.

Ele conta que, de início, não sabia o que esperar da Ucrânia com relação à receptividade para quem não é hétero-cis. "Como as pessoas sobrevivem, o que elas fazem? Eu entrava no aplicativo Grindr, por exemplo, buscava por perfis de ucranianos e não aparecia nenhum resultado. pensei: ‘Como assim?’. Em vista disso, ficava me perguntando como iria me relacionar ou até mesmo conseguir encontrar um namorado por lá”.

A Ucrânia possui um histórico de políticas e posicionamentos com relação à comunidade LGBTQIAP+ que levanta alguns temores. De acordo com o Relatório de homofobia patrocinado pelo Estado, divulgado pela ILGA (Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexuais) , em 2012, o Projeto de Lei n.º 1155 e o Projeto de Lei n.º 945 foram introduzidos na Ucrânia em uma tentativa de “proteger” as crianças da “propaganda” de relações entre pessoas do mesmo gênero; contudo, os dois projetos não chegaram a ser discutidos em âmbito parlamentar.

Ainda de acordo com o documento, posteriormente, no ano de 2019, a Câmara Municipal de Rivne, no oeste da Ucrânia, proibiu que a comunidade LGBT realizasse manifestações. Essa decisão foi inserida para “vetar a propaganda de vários tipos de comportamento sexual desviante na cidade de Rivne”, inclusive por meio de paradas do orgulho e festas de cultura queer, realizadas em locais de lazer onde várias famílias frequentam com as respectivas crianças. Já em 2020, o Tribunal Administrativo do Distrito de Rivne declarou que essa proibição era inválida e ilegal.

No mesmo ano, dois deputados apresentaram o Projeto de Lei nº 3.917 no Parlamento, tentando proibir a propaganda do homossexualismo [sic] e transgenerismo [sic]". Ainda neste período, o Tribunal Administrativo Regional de Kiev – capital da Ucrânia – declarou como discriminatória uma resolução do Conselho Regional de Chernivtsi que, assim como diversas decisões emitidas pelo país, apelaram para o governo numa tentativa de “proteger o instituto da família” proibindo manifestações LGBTQIAP+ e adotando uma legislação contra “propaganda LGBT”.

Oficialmente no país, fazer parte da comunidade não é criminalizado, porém os embates políticos expostos pelo relatório da ILGA mostram que, estruturalmente, pelo menos por parte do Estado, existe certa resistência à livre expressão de sexualidade e identidade de gênero. Gabriel diz que, ao chegar à Ucrânia, o que ele viu e presenciou foi bem diferente do que esperava.

“Tem muitas pessoas LGBT na Ucrânia, mas todas são bem reservadas”, começa ele. “Eu consegui fazer amizades. A sociedade jovem ucraniana, abaixo dos 35 anos, é muita aberta, já os que estão acima dessa faixa etária se mostram bem conservadores. As pessoas com quem fiz amizade eram jovens, então nos dávamos bem, mas também tive desentendimentos com pessoas mais velhas que não viam com bons olhos”, conta.

Gabriel também destacou algumas diferenças entre a forma com a qual os ucranianos se dirigem às pessoas LGBT e o modo como os brasileiros fazem isso. “Eles [da Ucrânia] falam o que querem na sua cara. Depois disso, acabou o problema. A pessoa dizia ‘cara, eu não gosto, não suporto [LGBT]’ e o assunto morria ali. A violência normalmente não se prolongava a partir disso”. Ao ser questionado se existia preocupação por parte da sociedade como um todo e dos órgãos públicos para com as demandas LGBT, Gabriel pontuou que via sim certa preocupação com relação a isso.

“Eu diria que tinha sim uma intenção de levar a Ucrânia a aceitar mais [as pessoas LGBT]. Falando pela maior parte da sociedade, as pessoas estão tentando abrir a mente e criar leis e promover mais paradas do orgulho, enfim. Então, em um panorama geral, há intenção de melhorar a vida de pessoas LGBT no país. Quando cheguei na Ucrânia, era praticamente impossível ver um casal não heteronormativo de mãos dadas na rua, mas nos últimos três anos já notavam casais LGBT na rua, juntos em um café e até se beijando publicamente”, explicou.

LVale ressaltar que, em setembro de 2021, membros do grupo neonazista Tradição e Ordem invadiram a Parada do Orgulho LGBT que estava sendo feita na Ucrânia e dispararam gás lacrimogêneo. Anos antes, em 2014, um grupo de cerca de 20 pessoas neonazistas tentaram invadir um clube gay em Kiev.

Questionado sobre qual foi a reação da população LGBT do país após o início do conflito com a Rússia , Gabriel explicou que muitos acabaram ficando na Ucrânia. “Alguns homens da comunidade, que são obrigados a servir no exército, por exemplo, permaneceram no país como soldados. Eu achei que as pessoas LGBT iriam priorizar sair de lá”, disse.

Novos horizontes

Após sair da Ucrânia em decorrência do conflito com a Rússia, Gabriel e uma amiga foram para Berlim e ficaram na casa de um casal de amigas dele até que a situação se estabilizasse um pouco. Atualmente, ele está na Croácia. Ao ser questionado se tinha interesse em retornar ao Brasil em algum momento, ele negou.

“Eu saí do Brasil há quase 10 anos e é um país maravilhoso. Mas me acostumei tanto com o estilo de vida aqui do exterior que é difícil encontrar um lugar no Brasil onde eu possa ter uma rotina semelhante à que tenho por aqui. Isso não inclui apenas situação financeira, mas cultura mesmo, principalmente segurança”, relata.

Dado o fato de que Gabriel já passou por vários países além da Ucrânia, ele pode dizer com segurança que existem formas bem diferentes de abordar a comunidade LGBT+ de um território para o outro. “Na União Europeia a diferença de tratamento é imensa. Aqui é normal vermos casais LGBT na rua, se abraçando ou de mãos dadas, algo que na Ucrânia não era comum porque existiam pessoas que poderiam ter alguma reação violenta a isso”, finaliza.

*Por: Miguel Trombini

02-04-2022 às 00:23 Jorge Jorge
O boy disse tudo. Concordo com ele, inteiramente. De que adianta um Ocidente entre mimimis e todes contra um Oriente selvagem, um Putin indomável, uma China governada por uma ditadura satânica. O que eles não veem, nós do Ocidente não vemos, é que abestalhar e fragilizar Ocidente é parte obcecada do pensamento dos líderes chineses e orientais. A Europa nega-se a si mesma. Vai desaparecer pelas mãos de ferro da Sharia.
31-03-2022 às 23:48 Zequinha
Sexualidade ninguém constrói ou desconstrói, considerando que sexualidade é algo da natureza dos seres vivo, tudo não passa de preconceitos.
31-03-2022 às 12:26 BOY
Ocidente está desconstruindo a masculinidade do homem e é preciso agir. Por isso apoio Vladimir Putin. Casamento gay para que , pra vagabundo safado fazer o mesmo que as feministas tomar do homem ? O que mais tem é pilantra se aproximando de gay rica para se casar e tomar parte de sua propriedade, do seu trabalho do seu esforço. E casamento é matrimônio entre homem e mulher, e não sexo. É dá acriança o direito de ter uma figura materna a paterna em casa. Já defendi casamento gay, mas diante de relatos de pilantragens de gays afeminados fazendo o mesmo que feministas para se dar bem, fico meio que neutro. Enfim, a cultura e valores da Ucrânia , Rússia e todo o leste europeu estão fazendo o que o resta da Europa não faz, preservar a cultura e tradição de seu povo. Diversidade têm que existir, mas é preciso pontuar algumas coisas.
31-03-2022 às 12:16 BOY
No Brasil os maiores homofóbicos são as feministas, que odeiam tudo que é tipo de homem, se for gay elas estimulam a ridicularizar, se for héteros elas estimulam falsas acusações. E os gays afeminados também são os piores homofóbicos que existem, acham que todos os homens devem servir a seus desejos. Gays afeminados são especialistas em sensualizar o corpo do homem com intuito de sexualizar para depois criminalizar o corpo do homem. E esses gays afeminados de esquerda são os piores que tem , eles apoiaram o uso da bermuda abaixo do joelho nos governos petistas, apoiaram a polarização sunga ou bermuda pela imprensa progressista e agora apoiam a bermuda para o hétero e o biquine para a esposa, deixando em aberto transparecer que sunga é coisa de boiola de gay. Sendo que agora existe um movimento nacional de homens encorajando o uso da sunga cavada.