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O preconceito continua

Ativista gay mente sobre sua orientação sexual para poder doar sangue à mãe.

por Redação MundoMais

Segunda-feira, 11 de Julho de 2011

O regulamento do Ministério de Saúde argentino restringe a doação de sangue por parte de homossexuais masculinos.O regulamento do Ministério de Saúde argentino restringe a doação de sangue por parte de homossexuais masculinos.

ARGENTINA - Os avanços acerca dos direitos civis dos homossexuais na Argentina foram relevantes. A presidente Cristina Kirchner impulsionou o projeto no Congresso Nacional, e a Argentina foi o primeiro país latino-americano a aprovar o casamento gay. Foi um passo importante, mas não concludente. O preconceito continua.

Assim como no Brasil, o regulamento do Ministério de Saúde argentino restringe a doação de sangue por parte de homossexuais masculinos.

Para os homens, levanta-se a questão acerca das relações sexuais obtidas com parceiros do mesmo sexo, nos últimos 12 meses. Para as mulheres, pergunta-se se sobre as relações sexuais que elas tiveram com um homem que por sua vez, teve relações com outro homem. Quem responde sim a essas perguntas não pode doar sangue.

Facundo Nicolás García, secretário de Diversidade Sexual do Partido Socialista, é exemplo do reflexo do preconceito embutido no questionário.

Facundo estudou Ciências Sociais na Universidade de Buenos Aires e, desde cedo, é ativista do movimento LGBT na Argentina. Aos 17 anos contou para a família sobre sua orientação sexual, e diz ter recebido apoio desde então.

Recentemente, a mãe dele adoeceu, precisando submeter-se a uma cirurgia de emergência, na qual ela teria de receber transfusão de sangue. No entanto, pelas regras do Ministério da Saúde, Facundo não podia doar sangue para a própria mãe porque era homossexual e tinha vida sexual ativa.

Tive que mentir para poder doar sangue à minha mãe. Não somos uma família numerosa, e tendo consciência do meu estado de saúde, quis doar. Faço exames regularmente e estava tranquilo, conta. Mas sempre gera raiva se deparar com esses tipos de pergunta. São discriminatórias.

Todo doador de sangue deve ser saudável, isso é inquestionável. Os exames laboratoriais são imprescindíveis para garantir uma doação segura. No entanto, os hábitos sexuais de cada doador deveriam ser mais importantes do que o sexo de seus parceiros, uma vez que os homossexuais não são mais o único grupo de risco. A infecção cresce também entre mulheres e pessoas com mais de 50 anos.

O último informe do ministério da Saúde da Argentina diz que as relações sexuais desprotegidas seguem como principal via de transmissão do vírus. Entre 2007 e 2009, 84% das mulheres e 88% dos homens diagnosticados tinham se infectado assim. No caso dos homens, 49% foram infectado através de uma relação heterossexual, e 36% por uma relação homossexual.

Facundo defende que seja observada a prática de risco e não mais grupos de riscos. O conceito de grupos de risco é anacrônico. Os agentes de saúde hoje falam em práticas de risco: as perguntas devem apontar a profilaxia nas relações sexuais. Não interessa com quem se tem relações sexuais, sim o uso de preservativo.

Este ano, na província de Río Negro, no Sul da Argentina, o modelo de questionário foi reformulado, e as perguntas sobre orientação sexual foram cortadas. O Partido Socialista portenho propõe reformular o questionário em todo o país.

No texto do projeto - já aprovado pela comissão de Saúde da Câmara de Deputados - o partido defende que ao incluir este tipo de perguntas sobre a opção sexual dos doadores, o Ministério da Saúde invade a esfera de privacidade das pessoas e impõe um critério raso e claramente discriminatória: A doação de sangue é um ato de solidariedade e de responsabilidade social, e hoje, sem nenhuma razão válida, estamos privando essa possibilidade a um importante número de pessoas.

15-07-2011 às 23:04 Magno
Deixei de doar sangue por causa dessas perguntas preconceituosas. E acho que só deixavam eu doar porque estava dentro do critério de intervalo sexual. Mas ainda hoje tenho receio em doar, e passar por essas perguntas sem fundamento e com um ar de julgamento. Espero que isso mude.
13-07-2011 às 07:51 Rogério Cadeias
Se eles não permitem que homossexuais doem sangue, impondo um questionário, das duas, uma: ou o controle do sangue, via exames de laboratório, nao tem segurança alguma, sendo a seleção feita antes da agulha, ou o preconceito grassa, firme. Desta forma, mesmo diante de uma causa nobre como a solidariedade, a força dele é maior, muito maior, que o ato de generosidade.
12-07-2011 às 18:04 Ricardo
Agora que é fato que boa parte das pessoas que vão doar sangue é para fazer exame de DST isso não tem nem como negar. Se existe preconceito é porque uma parte da população em geral são egoístas e só pensam nela. Doar sangue é ato de amor se for o contrário, de "boas intenções" o inferno tá cheio!
12-07-2011 às 01:05 Pedro
Nunca doei e nunca vou doar, eu qro mais e q eles se danem. Quanto ao cara da argentina, fez muito bem em mentir pra ajudar a mãe. +1
12-07-2011 às 00:11 Will mg
Nunca doei e nunca vou doar, eu qro mais e q eles se danem. Quanto ao cara da argentina, fez muito bem em mentir pra ajudar a mãe.
11-07-2011 às 23:09 Dinho
É um absurdo já que o próprio sangue doado passa por exames e se não passar poderia haver esse procedimento. Já doei sangue, mas não me fizeram perguntas sobre orientação sexual e sim comportamento de risco como sexo sem preservativo. Ingenuo nem sabia que essa proibição ainda valia.
11-07-2011 às 23:07 Teófilo Saiba
Faz bastante tempo que não doo sangue, mas todas as vezes que o fiz não tive qualquer constrangimento em mentir sobre minha identidade sexual. Para salvar vidas e fazer o bem, não há erro em burlar uma norma preconceituosa, nojenta e discriminatória. Menti, minto e mentirei sempre quando a causa for generosa e nobre. Abaixo essa regra asquerosa e esse questionário medieval.
11-07-2011 às 18:11 FABIO RADDAR
COM CERTEZA UM GRANDE ABSURDO!SÓ PQ TEMOS ALGUMAS MAS, DSTS! CURAVEIS TB!!!!!!
11-07-2011 às 16:48 Tiago
Gente de boa, vamos deixar os outros e que se fodam aqueles que precisam de sangue, quantos todos os gays pararem de doar, haverá uma ausência tão grande que eles irão implorar por doadores e irão retirar essas restrições rídiculas. Por que há heteros que comem putas por ae sem proteção alguma e são todos pais de família. País sem noção da verdadeira realidade.
11-07-2011 às 15:01 Éderson
foca, pelo seu comentário entende-se que os gays "aprontam" demasiadamente. Mas o texto está dizendo exatamente sobre isso... 49% das infecções são frutos relações heterossexuais e 36% das relações homossexuais. E está defendendo-se que passe a ser consideradas as práticas de risco e não mais os grupos de risco, visto que grupos de risco nos dias de hoje já não mais convém considerarmos. Andre Melo, penso como você e também (infelizmente) tenho que fazer o que você faz: mentir na doação. Desde que comecei a doar sangue, com 18 anos, passo por isso. Nunca deu nenhum problema no sangue doado... Me cuido e isso é que deveria ser levado em consideração...