por Redação MundoMais
Terça-feira, 10 de Fevereiro de 2015
Já prevista pelos movimentos de mulheres e minorias sexuais, a eleição de Eduardo Cunha representa o início de tempos sombrios na Câmara dos Deputados, como anunciado pelo Deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) em sua conta na rede social Facebook.
Muitos direitos da comunidade LGBT só foram recentemente conquistados e isso, sabemos, depois de anos de engajamento no Judiciário e muita pressão política. E são justamente eles - e outras liberdades civis - que estão sob ameaça: para travestis e transexuais, corre perigo o processo transexualizador; para todas as pessoas LGBT, o casamento civil também está na mira.
Em várias ocasiões, o novo presidente da Câmara dos Deputados declarou ser contra a regulação dos meios de comunicação, a criminalização da homofobia e qualquer alteração da atual legislação sobre o aborto. Em 2014, disse que a “sociedade vive sob ataque de aborteiras, maconheiros e gays”.
Para Jean Wyllys (PSOL-RJ), a vitória de Eduardo Cunha coloca em risco a presidência da Comissão de Direitos Humanos. “Com a derrota nas eleições para a presidência da Câmara e a consequente perda de posições na Mesa Diretora, o PT fará questão de pegar a presidência de três comissões de peso legislativo – o que significará deixar, de lado, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (como o PC do B também não optará por esta comissão, o provável é que ela caia nas mãos de algum partido que tenha, como objetivo, impedir o avanço legislativo em relação aos DHs de minorias e às liberdades individuais, como, por exemplo, PSC, PP, PR et caterva)”, analisou.
O direito a realização do processo transexualizador no Sistema Único de Saúde foi garantido em 14 de agosto de 2007, por meio de decisão do juiz federal Roger Raupp Rios, do Rio Grande do Sul, na Apelação Civil n. 2001.71.00.026279–9/RS. Desde então, o governo federal, sob a administração de Lula, por meio de seu Ministério da Saúde, editou a Portaria n. 1.707 de 2008, que veio regulamentar o acesso a esse direito, que agora se vê ameaçado pelo desarquivamento do Projeto de Decreto Legislativo n. 52/2011, que extingue a Portaria n. 1.707/2008, acabando com o processo transexualizador público, isto é, gratuito e universal.
O PDC n. 52/2011 foi desarquivado, veja só, no dia 04 de fevereiro, mesma semana em que Eduardo Cunha iniciou a presidência da Câmara dos Deputados, e em resposta a pedido feito pelo deputado João Campos (PSDB-GO), conhecido por sua atuação nitidamente homofóbica.
Já o direito ao casamento civil para gays, lésbicas e bissexuais foi garantido em 05 de maio de 2011, por meio de decisão do Supremo Tribunal Federal ao julgar a ADPF 132. Dois anos depois, o Conselho Nacional de Justiça, por meio da Resolução n. 175, proibiu que cartórios se negassem a registrar ou converter uniões estáveis homossexuais em casamentos. Essa grande conquista também está ameaçada sob a presidência de Eduardo Cunha. Na mesma semana em que desarquivou o PDC n. 52/2011, o deputado desarquivou também o PDC 235/2011, que anula, por sua vez, a decisão do STF. E novamente sob pedido do deputado João Campos.
As ameaças estão mais presentes do que nunca e representam um perigo real no atual momento, quando o Congresso Nacional é composto pelos parlamentares mais reacionários desde o Golpe Militar de 1964.
Protesto
O primeiro grande ato para protestar e denunciar contra o perfil conservador e reacionário de Eduardo Cunha já foi marcado pelo Facebook para o dia 21 de fevereiro, sábado da semana que vem, às 16h na Praça Roosevelt, aqui em São Paulo.