por Redação MundoMais
Segunda-feira, 07 de Janeiro de 2019
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, disse hoje (3) que não vê sentido em mudar os responsáveis pela investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março do ano passado. Segundo Witzel, o caso deve ser encerrado em breve.
“Pelo que o delegado me falou, em termos de colheita de prova, ele já está avançado. Então, não tem sentido mudar. Acredito que ele vai dar, sim, um encerramento a esse caso em breve”, disse o governador.
Em novembro do ano passado, o então ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que tinha “mais do que certeza” que pessoas poderosas não teriam interesse na elucidação do caso. O governador do RJ destacou que não chegou a ele nenhuma investigação sobre interferência e que o inquérito segue sob sigilo. “Eu não trabalho com hipóteses. Eu fui juiz federal, fui defensor público e sou um profissional do Direito; eu trabalho com fatos provados”, frisou Witzel.
“Se existe qualquer tipo de interferência e nós tenhamos a investigação necessária para mostrar que a interferência está ocorrendo, nós temos que indiciar, relatar o inquérito, o Ministério Público tem que denunciar e o juiz tem que julgar”, ressaltou.
O governador destacou ainda que não possui nenhum tipo de intenção de interferir nas investigações e que não possui atribuições constitucionais para isso. Ele reconhece que o índice de solução de homicídios no RJ ainda está aquém do necessário. Porém, Witzel conta que observa profissionalismo e que o setor precisa de investimentos para melhorar o desempenho.
Wilson Witzel afirmou ainda que a Polícia Civil foi desestruturada ao longo dos últimos anos e que precisa de meios para investigar e prender criminosos: “Há muita gente recebendo para cometer homicídios”, disse sobre o crime no Estado.
Marielle Franco, a vereadora de 38 anos executada com quatro tiros na cabeça na noite anterior. Marielle era novíssima na política: eleita pelo PSOL em 2016, com 46 500 votos (a quinta maior votação), entrava no segundo ano de mandato. Voz vibrante a favor das mulheres, dos negros, dos homossexuais e dos favelados — categorias em que se encaixava pessoalmente —, tinha intensa atuação dentro e fora da Câmara. A morte brutal a agigantou ao adicionar um componente político ao inaceitável caldeirão de violência que engolfa o Rio: os disparos abateram uma pessoa eleita pelos cariocas para representá-los. Exato um mês depois de instalada, a intervenção federal nas polícias fluminenses, que imaginava ter tempo para agir, vê-se encostada na parede. “A ação federal foi desafiada pelo assassinato de Marielle”, diz a cientista social Silvia Ramos, especialista em segurança pública.
Como no Brasil politicamente polarizado tudo é visto pela lente da deformação ideológica, já apareceram críticas à enorme repercussão do crime, creditando-a ao perfil de Marielle: mulher, negra, lésbica, esquerdista. Nada mais equivocado. Seu assassinato é um símbolo dramático porque se trata de uma execução contra uma voz pública, que detinha um mandato popular. Sua morte traz à memória a carnificina de uma Medellín dos anos 90, em que o crime chegava perigosamente perto de controlar o Estado, ameaçar autoridades e abalar as instituições da Colômbia. Fosse a vítima um homem, branco, heterossexual e direitista, a gravidade não seria um milímetro menor. Por tudo isso, o presidente Michel Temer tocou no ponto nevrálgico: é um atentado à democracia.