por Redação MundoMais
Quinta-feira, 30 de Julho de 2020
Miguel Herrán, o Rio de 'La Casa de Papel', publicou uma legenda falando sobre aceitar a si mesmo.
A discussão sobre auto-imagem é bastante comum entre as mulheres. Afinal, não é sem motivo que o movimento body positive ganhou tanto espaço nas redes sociais - diante de um padrão de beleza tão opressor, o incentivo à auto-aceitação é mais do que necessário. Porém, um dos atores do elenco principal da série 'La Casa de Papel' mostrou que a questão da auto-aceitação não diz respeito só às mulheres.
Miguel Herrán, o Rio, publicou uma foto em que aparece sem camisa diante do espelho. Na legenda, uma reflexão: "Acredito que, pela primeira vez na minha vida, me olhei no espelho e me aceitei. Acredito que, pela primeira vez, pouco me importa se vocês não gostam. Essa foto é para mim, para não me esquecer jamais que a realização pessoal está na aceitação de si mesmo e não na dos demais", escreveu.
Olhando a foto de Miguel, com o abdômen trincado, pode parecer contraditória uma legenda que fale sobre auto-aceitação. No entanto, assim como acontece com as mulheres, é impossível saber se a imagem que a pessoa vê refletida no espelho de fato corresponde com aquela que ela tem na própria cabeça.
Aliás, muitos transtornos alimentares, como a bulimia e a anorexia, não têm exatamente uma origem na comida em si, mas na forma como a pessoa se enxerga e na distorção que tem da própria imagem.
Um ponto importante, no entanto, é que muitas vezes esses assuntos são abordados, principalmente, em relação às mulheres - porque, de fato, elas são mais afetadas pela cultura machista e objetificadora do que os homens. Porém, isso não significa que os próprios homens não possam sofrer com a sua auto-imagem. A questão é que eles não sentem que têm liberdade para falar sobre isso.
"Meninos não choram", "Isso é coisa de gay", "Macho de verdade não vai ao médico", são frases que ouvimos com frequência. Elas reforçam uma ideia nociva que chamamos de masculinidade tóxica, ou seja, uma visão estereotipada do homem, que poda os seus sentimentos e a sua capacidade de lidar com emoções.
Não é difícil perceber como isso acontece e como essa ideia se relaciona a uma rejeição de tudo o que é feminino. Por exemplo, o fato de ser mal visto quando um homem chora ou quando ele é sensível demais - possivelmente sendo taxado como gay ou "mulherzinha" no seu meio social. Aliás, o próprio fato de que esses dois termos, "gay" e "mulherzinha" são usados como ofensas entre os homens é uma demonstração dessa ideia.
Portanto, um homem que se preocupa com a própria aparência no sentido de se sentir inseguro com o que pensa ou sente a respeito do seu próprio corpo é visto como "anormal". O "macho de verdade" não se preocupa com essas coisas, usa a roupa que quer, quando quer, tem o corpo que quiser e é pegador. Não pensa ou se preocupa com o que vê refletido no espelho.
Por isso estimular conversas sobre o que as pessoas sentem e pensam é essencial tanto para mulheres quanto para homens, porque a imagem que cada um constrói sobre si mesmo nunca corresponde ao que essa pessoa vê no espelho. E, a partir do momento que um dos lados começa a desenvolver mais esse olhar consciente sobre si mesmo e se libertar de amarras, pode ficar mais complicado para o outro, que não acompanha o ritmo.
Vamos explicar: segundo um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS), essa visão tóxica e o machismo correspondente afetam, inclusive, a expectativa de vida os homens - que costumam ter um tempo de vida menor do que as mulheres, no mundo todo. A questão costuma ser mais grave em países como o Brasil, em que a desigualdade de gênero é mais acentuada, e os homens estão mais propensos ao tabagismo e ao alcoolismo, a seguir uma alimentação não-saudável e à violência.
Tanto que, do lado inverso da balança, homens que vivem em países onde essa desigualdade é menor costumam ter uma qualidade de vida melhor, menor propensão à depressão, menor risco de suicídio ou morrer de forma violenta e maiores chances de ter relações sexuais com proteção.