por Redação MundoMais
Terça-feira, 17 de Novembro de 2020
A professora de literatura, educadora popular e ambientalista Duda Salabert, 38 anos, é a primeira mulher trans eleita vereadora de Belo Horizonte (MG). Com 99,96% das urnas apuradas, ela foi a vereadora com maior número de votos — mais de 37,5 mil votos, um patamar bastante alto para uma primeira candidatura.
Em 2018, ela também foi a primeira trans a concorrer a uma cadeira no Senado e obteve a maior votação do Psol, seu partido à época, em Minas, com 351.874 votos (cerca de 1,99% dos votos válidos), mas não conseguiu ser eleita.
Há cinco anos Salabert criou a ONG Transvest, que oferece cursos pré-vestibular e de idiomas gratuitos para travestis e transexuais na capital mineira.
A organização é responsável pela criação da primeira casa de acolhimento de pessoas trans e situação de rua da cidade e também criou curso voltado para profissionais do sexo, ambulantes e camelôs.
Em entrevista, na época de sua candidatura ao Senado, Duda contou que a sua decisão de se candidatar extrapola o conceito de representatividade e tem caráter simbólico.
“Se é um espaço para senhores, nada mais político que uma travesti querer penetrar esse espaço”, afirma. Mas o simbolismo de sua candidatura não para por aí. “Até a última eleição, a idade mínima para disputar esse cargo era 35 anos. 35 anos é a expectativa de vida de uma travesti no Brasil”, disse.
Salabert ainda reforçou a importância do diálogo. “Não tem transformação sem diálogo. E esse diálogo não pode usar a mesma ferramenta e o mesmo tom que esses setores imprimem sobre nós, que é o tom do ódio”, afirma. ”É difícil, mas é necessário.”
Quanto às candidaturas gerais de pessoas LGBT, levantamento inicial da Aliança Nacional LGBT+ aponta que elas receberam um total de 450.854 votos.
A organização dividiu os dados em quatro partes. Segundo o programa da entidade “Voto com Orgulho”, um total de 48 candidaturas LGBTs foram eleitas para prefeito ou vereador; 93 pessoas foram eleitas para suplência nos mandatos, como vice-prefeitos (as); 16 candidaturas de pessoas aliadas à causa foram eleitas, além de outras 42 aliadas eleitas para suplência.
“Os dados são, de fato, surpreendentes, e assim reforçam que nossa luta não pode jamais ser interrompida e somente assim será possível superarmos juntos toda e qualquer tentativa de retrocesso”, diz o texto do levantamento, que destaca que as cidades de Belo Horizonte e São Paulo tiveram votação expressiva.
Dois nomes expressivos estão no Rio de Janeiro. Mônica Benício (Psol), viúva de Marielle Franco, foi a 11ª vereadora mais votada da cidade, com 22.999 votos, além de Tainá de Paula (PT), que é uma mulher negra e se declara como bissexual. Ela teve 24.881 votos.
No Twitter, Benício comemorou e agradeceu o apoio à sua candidatura. Ela foi eleita 4 anos depois de Marielle Franco, assassinada em março de 2018. Na época, Marielle foi a 5ª vereadora mais votada do Rio.
“Agradeço imensamente às mais de 22 mil pessoas que votaram por um futuro mandato feminista e antifascista para a Câmara Municipal do Rio! Vamos transformar essa cidade juntas”, disse.
São Paulo contou com a reeleição de Fernando Holiday (Patriota), que é assumidamente gay, com 67.715 dos votos, ocupando o lugar de 5º vereador mais votado na cidade.
Saindo das grandes capitais, pessoas LGBT também foram eleitas, inclusive para prefeituras. A cidade de Mariluz (PR), elegeu Paulinho Alves (PSL) com 56,18% dos votos válidos logo no primeiro turno. Ele é assumidamente homossexual e casado.
Na mesma cidade, o vereador mais votado foi Marquinhos da Eletromóveis (PTB), com 386 votos, que também é homossexual. No interior de São Paulo, Diego Singolani (PSD), que é gay, foi eleito prefeito em Santa Cruz do Rio Pardo, com 56,18% dos votos.