por Redação MundoMais
Terça-feira, 16 de Fevereiro de 2021
Policial gay faz vídeo sobre vida na PM e perde porte de arma na véspera de casamento.
Após publicar um vídeo na internet, Henrique Harrison, da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), teve sua permissão de uso de arma de fogo suspensa. O conteúdo, disponível no YouTube, é sobre como a homossexualidade, assumida pelo soldado, é tratada em ambientes militares.
Harrison foi notificado sobre a decisão na véspera do casamento civil com o companheiro, Jadson Lima. O argumento da PM é que, na gravação, um objeto semelhante a uma pistola está a plena vista do espectador, sobre a bancada de um móvel localizado no quarto do soldado. A proibição consta no Art. 3º da Portaria da sindicância instaurada para apurar a conduta de “portar arma de fogo institucional em atividade estranha ao serviço policial militar”.
Em entrevista ao jornal Metrópoles, Harrison, que já devolveu seu armamento, se defende alegando que a Polícia Militar do Distrito Federal possa estar usando o argumento do porte da arma de fogo para esconder a homofobia.
“Policiais postam o tempo todo vídeos limpando a arma, manuseando-as em casa, e nenhum é punido. Por que apenas eu tenho de ser punido? Eu sei que é uma perseguição por causa da minha orientação sexual, e eu recebo isso na véspera do meu casamento. Eu amo estar na Polícia Militar, mas, realmente, é muito difícil trabalhar num lugar em que muitas pessoas estejam tentando te colocar para correr”, disse ao jornal.
No vídeo objeto da sindicância, Harrison conta que não teve dificuldade de assumir internamente a própria orientação sexual, mas que já foi alvo de ataques homofóbicos internos, após ter publicado uma foto beijando o antigo namorado durante a formatura de ingresso na corporação. Na época, um áudio atribuído a um coronel da PMDF foi compartilhado expondo o preconceito contra os policiais que beijaram os companheiros do mesmo sexo fardados.
“Desde que entrei na Polícia Militar, eu sabia que não seria um processo fácil, mas resolvi encarar. No curso de formação, já recebia uma carga mais pesada pelo fato de eu ser gay e, assim que formado, aconteceu a situação toda com a foto da formatura. Não fui atrás dos meios penais e cíveis para punir essas pessoas”, declarou ao Metrópoles.
Em nota ao jornal Metrópoles a PMDF informou que “em relação ao soldado Harrison, este teve a cautela do armamento da corporação suspensa por determinação da Corregedoria da PMDF, por contrariar o previsto no Termo de Responsabilidade que ele mesmo assinou quando da transferência da guarda do armamento”.
PM diz que beijo em outro colega rendeu ataques homofóbicos dentro da corporação.
A corporação alegou ainda que “o encarregado do procedimento apuratório (sindicância) cumpriu o determinado na portaria de instauração da sindicância tão logo se mostrou possível, não havendo qualquer relação com as atividades da vida privada do soldado Harrison, que não teve o seu porte de arma suspenso. Portanto, ele poderá portar uma arma de fogo de sua propriedade normalmente, bem como armamentos da corporação durante o período de serviço. A sindicância instaurada diz respeito tão somente à exposição indevida do armamento em um vídeo público em seu perfil pessoal”.