por Redação MundoMais
Terça-feira, 09 de Novembro de 2021
Cinco estudantes da Universidade Católica de Brasília (UCB) desenvolveram um aplicativo que auxilia pessoas trans no processo de transição de gênero. O programa, batizado de Queely, é gratuito e está disponível para o sistema iOS, desde o fim de outubro.
O objetivo do app é ser uma espécie de diário, oferecendo ao usuário a possibilidade de registrar e acompanhar o progresso da transformação em um ambiente seguro. No Queely, que é gratuito, é possível avaliar o humor, organizar a rotina de consultas, ser notificado sobre o horário de medicamentos, catalogar fotos e anotar pensamentos e sintomas.
A ideia de criar o app surgiu depois de a equipe perceber que a transição de gênero é um processo árduo e dispendioso, além de pouco documentado. "Identificamos que pessoas trans sofrem bastante com o preconceito e a falta de acolhimento", conta João Victor Alves, desenvolvedor do programa junto a Arthur Amorim, Felipe Marra e Vitor Souza.
“Pesquisamos sobre a transição de gênero e descobrimos que é um processo muito complexo, lento, pouco documentado e não muito especificado para a comunidade”, explica João Victor.
O software foi implementado dentro das atividades de um programa oferecido pela universidade que permite que estudantes desenvolvam aplicativos e jogos, desde a concepção até a efetiva publicação.
A designer Isabella Matiuzzo explica que o desejo da equipe era que o programa tivesse um nome fácil e curto, de maneira que os usuários lembrassem com facilidade.
"Então, criamos o nome Queely, sendo uma junção das palavra 'queer', termo da comunidade LGBTQIA+ para identificar um leque de várias possibilidades de gênero e sexualidade, e 'weekly' (semanalmente, em inglês), para dar a ideia de rotina, que é justamente a proposta do aplicativo", esclarece Isabella.
Mesmo tendo sido lançado há poucas semanas, os desenvolvedores afirmam que o aplicativo tem recebido boas respostas do público. Olivier de Oliveira, de 19 anos, está passando pelo processo de transição há dois meses. Ele participou da fase inicial de testes do software e, desde então, diz que mantém o uso do serviço.
"Tem sido uma experiência ótima. Primeiro, porque sou uma pessoa extremamente desorganizada [risos], então, o aplicativo tem me ajudado muito nessa questão de marcar as consultas com os médicos", revela Olivier. "Além disso, como uso muitos remédios, posso organizá-los no app com os dias e os horários que eu vou tomar."
"Como pessoa trans, é sempre muito bom quando querem te representar e te ajudar, quando pensam em você", afirma o estudante.
Outra função usada por Olivier é o registro das variações de humor. "Antes, anotava em um caderno, mas sempre acabava o perdendo, aí na próxima consulta com a terapeuta não tinha como eu falar como eu estava me sentindo. No aplicativo, posso anotar se estou feliz ou triste. É muito prático", define.
Dados de um relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) demonstram que pessoas trans ainda são alvo constante de violência no país. De acordo com a pesquisa, pelo menos 80 transexuais foram assassinados no primeiro semestre de 2021 – 51 a mais que o número registrado nos Estados Unidos, no mesmo período.
A maioria das vítimas era negra e expressava publicamente o gênero feminino, sendo travestis e mulheres trans. A pesquisa também aponta que ocorreram no Brasil, entre janeiro e junho, 9 suicídios, 33 tentativas de assassinatos e 27 violações de direitos humanos.
O ano de 2020 alcançou a marca recorde de 175 óbitos – 135 a mais que o número registrado nos Estados Unidos, no mesmo período. Grande parte dos crimes apresentaram requintes de crueldade e uso excessivo de força – indicativos de se tratarem de crimes de ódio.
Segundo a Antra, "a morte é o ponto final de uma série de violações anteriores."
O levantamento também aponta que as violações contra essa parcela da população têm acontecido mais precocemente, direcionadas, cada vez mais, a pessoas mais jovens. De 2017 – ano em que a pesquisa passou a ser realizada – para 2021, a idade da vítima de assassinato mais jovem caiu, de 17 para 13 anos.
De todas as pessoas transgênero mortas no primeiro semestre deste ano, apenas cerca de 15% conseguiram ultrapassar a estimativa média de vida de uma pessoa trans, que é de 35 anos.