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Dos EUA ao Brasil, cena Ballroom abre espaço de exaltação aos LGBTQIA+

Nascido na América do Norte na década de 1960, o movimento chega por aqui somente na década de 2010 e tem o propósito de valorizar corpos marginalizados.

por Redação MundoMais

Quarta-feira, 27 de Abril de 2022

Séries como “Pose” ou reality como o “Legendary" mostram o poder da cena Ballroom nos Estados Unidos, mas - para além de uma festa - esse movimento e cultura formam um espaço de refúgio, resistência e exaltação da população negra, periférica e LGBTQIAP+, que por meio de disputas em diversas categorias, os vencedores recebem prêmios.

O surgimento da Ballroom tem influência das drag balls (bailes drags) que ocorriam entre 1920 e 1930 no Harlem, nos Estados Unidos, porém o movimento surgiu somente no final da década de 1960, após Crystal LaBeija, uma travesti preta, ter perdido o concurso de beleza de drag queens para pessoas brancas. Ela não aceita a injustiça e o racismo e decide criar a House of LaBeija, primeira House (casa) que dá estrutura ao movimento Ballroom, que tem se difundido paulatinamente pelo mundo como um movimento político, de ocupação de espaços e de celebração a diversidade de gênero, sexualidade e raça.

No Brasil não é diferente: a primeira House que dá início a uma consistência do movimento no país é a House of Hands Up, que surge em 2015, com a mother (mãe) Eduarda Kona Zion em Brasília, no Distrito Federal, enquanto a dança vogue já se fortalecia pelo país.

Jô Gomes, de 34 anos, atual mother (mãe) da House of Hands Up, jornalista e professora, explica que nos anos 1990 a internet ainda não era uma realidade para a maioria dos brasileiros e a única informação que chegava para eles era sobre a dança vogue e algumas outras relacionadas a cultura hip hop, como o break.

O movimento começou a formar um alicerce forte no Brasil a partir de profissionais da dança que estudaram mais sobre a cultura Ballroom, possibilitando assim evoluir os acessos e aprendizados. “Primeiro chegou a dança e, depois, vieram os outros elementos da cultura. Foi a partir da década de 2010 para frente que começou o movimento ball aqui no Brasil”, adiciona a dançarina.

Assim como nos EUA, a cultura busca exaltar os corpos marginalizados e, fora dos palcos, cria uma relação de união entre eles. “Ninguém aqui é feio. Os corpos que são exterminados lá fora, no ball eles são acolhidos”, comenta Gomes.

Por lá, muitos jovens LGBTQIAP+ foram expulsos de suas casa e, com o alto índice de contaminação pelo vírus do HIV na época, trouxe-lhes um enfraquecimento na autoestima, saúde mental e física, mas encontraram abrigo e pertencimento na ballroom. Já no Brasil, o mesmo ocorre.

“O ball é um espaço seguro para nós, pessoas pretas, LGBTQIAP+, latinas e periféricas sermos quem somos, aceitos por este motivo e termos nossos corpos e nossas vivências respeitados exaltados e acolhidos”, defende a jornalista.

“A cultura Ballroom foi feita de, para e por pessoas pretas, LGBTQIAP+, latinas e periféricas. A Madonna não inventou nada, ela só foi responsável por ir em um ball e ter achado o máximo, assim como todo mundo acha”, enfatiza a mother, explicando sobre o papel que a cantora pop teve ao lançar a música “Vogue” em 1990, vista como responsável pela repercussão da cultura Ballroom no mundo.

Para ela, é importante que saibam que o ball não é somente sobre uma competição ou rivalidade, é um momento de celebração das vidas desses corpos que o Estado quer exterminar a todo momento, principalmente no país que mais mata pessoas trans e travestis. "Nós estamos vivos, estamos aqui e queremos ser respeitados pela nossa arte e por tudo o que o temos para acrescentar”.

Félix Pimenta, de 32 anos, pioneiro da cultura Ballroom e atual father (pai) da House of Zion no Brasil, contribui dizendo que para consumir o movimento de maneira consciente é preciso estar o mais próximo possível para conhecer as realidades e verdades.

"Sempre que possível, contrate profissionais que fazem parte da comunidade Ballroom para que possam produzir, curatoriar, direcionar ou escrever sobre a ela”.

29-04-2022 às 02:35 Marcello F
Bela matéria! Parabéns MM amei Pose e Estou curtindo muito Legendary!