por Redação MundoMais
Quinta-feira, 15 de Maio de 2025
O Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, no Rio de Janeiro, recebe a estreia de “Papaizinho”, espetáculo idealizado por Caio Scot em colaboração com Felipe Rocha, Júlia Portes, Lucas Cunha e Luisa Espindula. A temporada acontece entre 17 de maio e 1º de junho, com sessões às sextas-feiras, às 20h, e aos sábados e domingos, às 19h.
A montagem nasce do encontro entre Caio e o livro “Quem matou meu pai”, do escritor francês Édouard Louis. A obra funciona como provocação e estrutura base para a peça, mas não é adaptada diretamente. Também fazem parte da dramaturgia memórias do próprio Caio, registros em VHS da infância e audições realizadas com mais de cem pessoas, das quais quinze foram selecionadas para relatar suas vivências de paternidade.
“Durante o processo, fiz um trabalho de interlocução artística com o cineasta argentino Manuel Abramovic, explicitei minha vontade de testar pais para peça e o Manu falou que poderíamos levar isso pra dentro da peça. Adorei essa ideia como processo de busca desse pai, desses pais, dessas possibilidades de pais, tão distintos, tão parecidos, tão únicos – mas tão identificáveis nos clichês”, conta Caio. “As pessoas compartilharam suas histórias com uma generosidade que nos impressionou, precisávamos fazer muito pouco para que se abrissem, claramente o assunto as mobilizava”, completa Luisa.
Em cena, Caio Scot e Felipe Rocha encarnam diferentes narrativas entre pais e filhos, transitando entre o documental e o ficcional. A peça parte da solidão de um garoto gay diante de seu reflexo, tentando compreender por que era chamado de viado”, até o reencontro, anos depois, com um pai que já não reconhece. A relação é marcada por ausência, resistência e a tentativa de reconstruir alguma forma de comunicação.
“Cada vez que a gente encarava o que era singular em cada relação, mais o tema se abria. Num mundo onde o problema do homem autoritário, violento, embrutecido é tão presente, é difícil acreditar que possa existir algo diferente. Então, o desafio foi não deixar que essas histórias (as pessoais, a do livro e as das audições), em sua maioria bem difíceis, fossem conclusivas sobre o que é um pai. A gente quer que o pai tenha a possibilidade de reinvenção”, afirma Júlia Portes.
Projeções em vídeo compõem a cena, trazendo histórias que variam desde negligência e ausência até a presença afetiva. A multiplicidade de relatos tensiona os estereótipos da figura paterna e propõe novos caminhos para entender esse papel.
“O autor do livro fala que o livro dele é um cavalo de Troia. Ele usa a relação com a sua família e a sua própria sexualidade como pano de fundo para tratar de questões como o ciclo da violência na nossa sociedade. Nós adaptamos histórias do livro entrelaçando-as com histórias do Caio, e essa mistura virou uma nova história, totalmente inventada. O livro ‘Quem matou meu pai’ virou o nosso cavalo de Troia para tratarmos de assuntos que queremos falar”, comenta Lucas Cunha.
Para Luisa Espindula, ouvir tantas histórias ajudou a desconstruir leituras maniqueístas. “Uma das belezas imensas de criar personagens é ter que humanizar o erro, tentar entender as motivações de alguém, e isso dificulta muito um processo de chegar a verdades absolutas, de achar que sabemos quem o outro é. Me sinto com o olhar mais fresco e disponível para as pessoas e suas contradições”, afirma. Júlia complementa: “Tentamos mostrar que essa relação é infinita – e que os estereótipos, que categorizam e simplificam, nos ajudam pouco (ou nada) a inventar novos jeitos de convivermos e lidarmos com as dores e alegrias desse vínculo.”
SERVIÇO:
• Espetáculo: Papaizinho
• Temporada: de 17 de maio a 1º de junho de 2025
• Horários: sextas-feiras às 20h; sábados e domingos às 19h
• Local: Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto
• Endereço: Rua Humaitá, 163 – Humaitá – Rio de Janeiro, RJ
• Ingressos: R$ 40 (inteira) | R$ 20 (meia-entrada)
• Classificação indicativa: 14 anos Duração: 90 minutos
• Vendas online: riocultura.eleventickets.com
• Telefone: (21) 2535-3846