por Redação MundoMais
Terça-feira, 02 de Setembro de 2025
O ator João Côrtes, 30 anos, está em cartaz no Rio de Janeiro com a peça “Eddy: violência e metamorfose”, no Teatro Poeira, em Botafogo, e chamou a atenção nas redes sociais pelo uso de nudez em uma das cenas. O espetáculo aborda temas como homofobia, machismo, racismo e relações familiares, trazendo o personagem Eddy como centro da narrativa.
Côrtes, que ficou conhecido nacionalmente em um comercial de telefonia há 11 anos, afirma ainda ser reconhecido pelo trabalho, o que gera surpresa em parte do público ao vê-lo em cena com nudez. Ele destaca que ficar nu não foi um problema e que a nudez é tratada de maneira artística, sem apelo gratuito: “Inevitavelmente, mexe com a vaidade. Mas tem uma mensagem ali e fui ficando à vontade. É engraçado ver a reação de algumas pessoas que logo se conectam com aquela figura que eu tinha dez anos atrás. Dá para ver um choque”.
Desafios e coragem
Côrtes descreve o momento como desafiador, mas necessário para transmitir a mensagem da peça e para explorar a transformação do personagem. “Mas eu gosto desse processo de se metamorfosear em cada personagem, não se reconhecer tanto de um para outro”, continua. O ator divide cenas com Igor Fortunato, protagonizando sequências coreografadas que utilizam a nudez para reforçar a vulnerabilidade e intensidade dramática do personagem Eddy.
Na trama, Eddy é um homem gay que enfrenta violência e preconceito, além de carregar memórias ligadas ao universo da música pop. O espetáculo tem como ponto central a confissão do protagonista após sofrer um estupro, episódio que conduz a discussão sobre masculinidade e vulnerabilidade.
Para compor o personagem, utiliza referências pessoais e experiências que dialogam com o papel, ressaltando o ato de afirmar a própria identidade como um exercício de coragem cotidiana. “Isso nunca vivi. Mas quando a gente tenta se relacionar, entra nessa vida de experimentações, inevitavelmente, você enxerga situações desagradáveis”, contou.
Em cena, a relação de Eddy com a irmã, interpretada por Julia Lund, também ganha destaque. O enredo expõe as tensões familiares e a dificuldade de lidar com situações de violência, ao mesmo tempo em que evidencia as formas de resistência do personagem. A nudez também tem função simbólica: o corpo de Côrtes expressa a fragilidade, conflitos internos e resistência do personagem, mostrando como a intimidade pode ser compartilhada de forma cuidadosa e significativa: “É sempre uma linha tênue do que a gente empresta para um papel e vejo vários pontos de conexão com a história do Eddy. Escolher ser quem você é, é um ato de coragem todos os dias”.
Vida pessoal de João Côrtes
Côrtes relata que, apesar de já ter enfrentado situações de homofobia, cresceu em uma família liberal e acolhedora, o que o ajudou a lidar com a própria sexualidade. “Tenho o privilégio de ter nascido numa família liberal, em que minha sexualidade nunca foi uma questão. Acho que vivi muito mais com um monstro que eu mesmo carreguei para mim, com receio do que os outros achariam, mas sempre fui muito acolhido”, contou.
Há cinco anos, ele tornou pública sua identidade gay em um texto, iniciativa que, segundo o ator, teve como objetivo ampliar a representatividade: “Pensei muito, porque foi uma forma de trazer representatividade e dar acolhimento para que outras pessoas como eu não se sentissem sozinhas. É um pouco nossa função como artista”.
Por fim, o ator diz que ficar nu não atrapalhou sua carreira nem o limitou a certos papéis. Pelo contrário, surgiram novas oportunidades com a repercussão da peça.