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Professora trans já foi vítima de montagem pornográfica e vetada em escola

Pioneira como professora trans em São Paulo, Geanne Greggio enfrenta preconceitos desde a infância e luta pela valorização da educação.

por Redação MundoMais

Quarta-feira, 08 de Outubro de 2025

Jaboticabal, interior de São Paulo, era uma cidade pequena, marcada pelo trabalho na roça, mas foi também o lugar onde Geanne Greggio encontrou as primeiras sementes de resistência e coragem. Caçula de quatro irmãos, ela nasceu em 1976, em uma família que trabalhava no campo. Sua mãe, já com 38 anos na época do parto, desempenhou um papel decisivo em sua trajetória.

"Eu falo que a Geanne só conseguiu existir porque teve uma família por trás, que faz uma diferença muito grande na vida de uma pessoa trans. Até de uma pessoa gay, mas de uma pessoa trans mais ainda. Minha mãe era muito protetora, a matriarca da família".

Desde a gestação, a mãe de Geanne conversava com o feto como se fosse menina, um gesto de cuidado que marcou profundamente sua formação. "Ela dizia: 'Eu quero uma menina para cuidar de mim quando eu estiver mais velha'. E eu nasci homem", disse ao Terra. Ao crescer, Geanne incorporou os ensinamentos da mãe, aprendendo a cozinhar, costurar, fazer crochê e se tornando, desde cedo, uma menina que aprendia com as tarefas domésticas.

Enquanto ajudava na preparação do almoço, a pequena Geanne dizia com convicção: "mãe, eu sou menina". A progenitora tentava corrigi-la, dizendo que era um menininho. Mas, Geanne se manteve firme. Em idade tenra, já sabia quem era.

"Aí, ela falava: 'Então está bom. Seja o que você quiser'". O laço entre as duas era tão forte que a mãe não só aceitava, como também deixava que seus itens pessoais fossem ferramentas de experimentação e identificação. "Ela me deixava usar as roupas dela, maquiagem, salto, tudo". Ali, Geanne poderia ser quem ela quisesse, sob um pedido: a educação.

O incentivo para estudar foi um farol em sua vida. "Você tem que estudar, porque as pessoas vão te respeitar pelo seu estudo", dizia a mãe. E Geanne abraçou essa filosofia com intensidade. Estudou em escolas públicas, ajudava colegas e sonhava com a universidade. Aos 18 anos, ingressou na faculdade de Letras, e seis meses depois já dava aulas em cidades vizinhas para pagar seus estudos. "Acordava às quatro e meia da manhã, dava aula até às cinco da tarde, pegava carona, voltava direto para a faculdade e estudava até às onze da noite. Foram três anos. Logo em seguida, me formei e comecei a dar aula em Jaboticabal".

Ao longo de sua juventude, Geanne começou a se perceber como mulher, e a transição se tornou inevitável. Entre 2000 e 2002, iniciou pesquisas sobre hormônios e cirurgias, com pouca informação disponível na época.

"Eu não tinha essa rede de apoio. Eu procurava na internet as coisas que eu queria, ia buscando os tratamentos estéticos e as cirurgias plásticas. Essa era a minha rede de apoio, porque eu não tinha com quem conversar".

Ela lembra ainda que só pôde dar passos mais decisivos quando alcançou independência financeira: "Eu já dava conta sozinha, com um emprego só. Eu já dava conta de fazer algumas coisas; com dois, eu dava conta de fazer muito mais. Porque a Geanne só pôde aparecer quando eu estabeleci meu momento financeiro, quando eu vi que não estava em risco. Eu falei: 'Estou em uma posição onde ninguém vai poder fazer nada contra mim. Eu tenho dinheiro para conseguir fazer as coisas.'"

Professora Gê

A consolidação de Geanne como professora trans foi uma batalha diária. Foram dez anos de construção gradual de sua identidade, negociações com diretores e enfrentamento do preconceito: "As minhas brigas não eram com alunos e pais, as minhas brigas eram com colegas de trabalho e diretores de escola. Eu lembro de duas diretoras que falavam: 'Eu não quero que você pegue aula na minha escola.' Aí eu disse: 'Bom, eu vou pegar aula onde eu quiser, onde minha pontuação me deixar. A escola não é sua.'"

A professora enfrentou também ataques pessoais: um ex-namorado espalhou fotos montadas na internet tentando arruinar sua carreira. No dia de seu aniversário, ele criou uma página falsa de prostituição e subiu um perfil em nome de Geanne. O homem também imprimiu as montagens e espalhou-as pela escola.

"Eu estava no interior com minha mãe, e a escola me ligou... Eu disse que era a vítima da história. A diretora respondeu que eu fazia programa e começou toda uma perseguição, uma verdadeira caça às bruxas. Por fim, arrumei um advogado, provamos que as fotos eram montagens e tudo foi arquivado. Poderia ter entrado com meu processo, mas já estava tão desgastada que falei: 'A vida segue, continuo aqui, meus alunos estão do meu lado.'"

Por mais que tenha pensado em desistir da docência naquele momento, a experiência dolorosa não a impediu de seguir sua missão de educadora. Hoje, ao ver ex-alunos formados e construindo carreiras, sente o peso do legado: "É gratificante quando alguém me diz: 'Nossa, eu fui estudar tal coisa por sua causa, porque você me incentivou'. Tenho muitos ex-alunos; foram 25 anos em Embu dando aula para muita gente, pegando carga completa, e os meus alunos hoje estão todos formados."

Coordenadora de saúde

Paralelamente à docência, Geanne se encontrou na saúde pública. Primeira pessoa trans a coordenar um programa de IST/Aids e hepatites virais, em Embu das Artes (SP), ela se dedica a criar redes de apoio para pessoas trans: "Por isso hoje eu luto para que as meninas não passem pelas mesmas coisas que eu passei. Eu poderia ter pirado, como algumas piram por aí quando fazem a cirurgia, porque eu não tive atendimento psicológico. Não tive nada disso".

Sua experiência pessoal impulsiona sua atuação profissional: "Eu comecei a querer trabalhar no consultório, mas não podia porque era pedagoga. Então, fiz biologia durante esse percurso para poder exercer algumas funções que antes não podia". Ao todo, a educadora completou graduação em letras, pedagogia e biologia. Foram duas pós-graduações e, atualmente, ela cursa biomedicina e engenharia civil. "Eu falei que eu queria mais na minha vida. Ano que vem, eu termino biomedicina". Ainda assim, os estudos não param. Seu maior sonho é se tornar médica.

'A educação salva'

Ao longo de sua vida, Geanne construiu um exemplo de resiliência e inspiração. Para jovens trans e de outras identidades, deixa uma mensagem clara:

"A educação salva. A educação resgata. O conhecimento, ninguém pode tirar de você. Então, a gente pode tudo. A gente pode ser o que a gente quiser ser, a partir do momento que a gente se reconhece como esse ser e a gente vai atrás disso. Estudando. A Geanne só existe por conta disso.”

Ao olhar para trás, se enxerga com ainda mais clareza: "Eu sou luta e resistência. Eu olho para minha vida e falo: Eu existo, eu resisto. Eu faria tudo de novo. Não me arrependo de nada do que eu fiz. Uma história limpa. Eu fiz tudo que eu fiz lutando mesmo, sem puxar o tapete de ninguém. Eu fui por outro caminho".

* Fonte: Terra

09-10-2025 às 09:51 P/Falsa Crente Abaxo.....
Sério cão!? E onde já se viu, crente em site porno.......Gay ainda por cima!?!? Cria vergonha nessa tua cara de cú sem prega, e para de ser LOKA!!!
09-10-2025 às 00:53 Crente Conservador Bolsonarista
Onde já se viu professora com tatuagem ? E decote ?
08-10-2025 às 19:04 @@@
Parabéns a Mana desse posti.
08-10-2025 às 18:46 Bernardo
Parabéns pela bela tragetória Geanne.