por Redação MundoMais
Sexta-feira, 10 de Outubro de 2025
Itália - Mercedes Garcia já foi casada com uma mulher, é mãe solteira e tem um filho de oito anos que frequenta a catequese. A criança está no seu primeiro ano e, no próximo, devia fazer a Primeira Comunhão. Uma cerimónia que parece não ir acontecer, pois, segundo o padre da Paróquia de San Isidro Labrador, Pino Montano, Sevilha, o filho faltou a cinco sessões de catequese, o que o impede de transitar para o segundo ano.
Para Mercedes, o problema é, no entanto, outro e advém da sua orientação sexual, garantindo ainda que o filho só faltou à catequese três vezes, todas justificadas por motivos de saúde. “[O padre] nunca parou de criar obstáculos”, confidenciou ao Jornal El País, acrescentando que sentiu hostilidade desde o momento da inscrição da criança do filho na catequese.
“O padre perguntou-me porque é que ele não tinha pai e eu expliquei-lhe o caso e que também não tinha podido batizá-lo porque na altura era casada com uma mulher e a Igreja proibia-me”, relatou a sevilhana. A resposta do pároco, segundo o relato de Mercedes, foi clara: “É normal, porque a Igreja não aceita dois pais nem duas mães”. Além disso, garantiu que o padre “fazia insinuações claras sobre a sua situação familiar” durante eventos que requeriam a presença das famílias das crianças e que lhe chegou a dizer que “não a conhecia, nem queria conhecer” quando confrontado com a sua animosidade.
Na denúncia enviada à arquidiocese de Sevilha e à comissão dos direitos da infância e do menor da Andaluzia, defende-se que “não há um motivo pastoral real” para a não passagem de ano do menor, mas sim “um tratamento discriminatório” contra Mercedes e o filho. Três outras mães da paróquia assinaram a denúncia como testemunhas, atestando que a criança apenas faltou a três sessões de catequese. “Isso é o de menos, na verdade. Eu ofereci-me para que o meu filho fosse à catequese o dobro das vezes este ano, se for por questões de frequência, mas tenho certeza de que ele encontraria outra desculpa”, acrescentou.
Já o padre não altera a sua postura ou explicações. “Quem tem razão, está tranquilo. Eu sei disso e ela sabe disso”, respondeu ao El País.
Ao mesmo jornal, fontes da arquidiocese de Sevilha confirmaram a recepção da queixa e explicaram que caberá agora ao Sector Diocesano de Catequese dar uma resposta. “O padre indica que o ciclo de formação não foi concluído e o que pede é que seja finalizado”, referiram as mesmas fontes.
Mercedes, contudo, defende que apenas quer que o filho possa fazer a primeira comunhão com os colegas e que não tenciona mudar de paróquia, apesar da sugestão do padre. “Se o meu filho pudesse seguir para o segundo ano, eu retirava todas as queixas, porque só quero que ele realize o seu desejo, mas entendo que deve ser feita justiça”, declarou, reforçando: “Ele quer fazer parte da sua irmandade, quer fazer a comunhão e quer fazê-la com os seus amigos, e eu estou aqui para o que for preciso”.