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‘Fumaça’ reflete sobre o colapso psíquico de um gay sob efeito da vida digital

Suspense teatral expõe ansiedade, paranoia e solidão da cultura gay hiperconectada nas redes sociais.

por Redação MundoMais

Sexta-feira, 21 de Novembro de 2025

Com estreia marcada para o dia 22 de novembro no Ágora Teatro, em São Paulo, o monólogo “Fumaça”, do britânico Alexis Gregory, ganha sua primeira versão brasileira sob direção de Fernando Vilela e interpretação de Filipe Augusto. O espetáculo permanece em cartaz até 7 de dezembro, com apresentações aos sábados, às 20h, e domingos, às 19h.

Escrita originalmente como um thriller psicológico com estrutura solo, a obra combina elementos de paranoia, humor ácido e crítica social, num contexto que tensiona luto, vício e autoimagem no ambiente digital. A peça parte de uma premissa surreal: Alex, o protagonista, recebe uma mensagem privada enviada por um ex-companheiro já falecido. A partir disso, desencadeia-se uma espiral de investigação interna e delírio que revela as fissuras do sujeito contemporâneo, especialmente no recorte gay urbano.

A encenação dialoga com as dinâmicas de visibilidade e performatividade mediadas pelas redes sociais. Segundo Fernando Vilela, o cenário foi concebido como um espaço de clausura simbólica, evocando ao mesmo tempo um ambiente de confinamento psicológico e a estética da autoexposição digital. A presença de um grande aro iluminado, que remete a um ring light, sintetiza essa ambiguidade entre aprisionamento e vitrine.

Gregory, conhecido por trabalhos que tensionam masculinidades e experiências queer, descreve o texto como fruto da observação direta dos modos de subjetivação entre homens gays conectados: “A paranoia se tornou um dos motores do nosso tempo. Drogas, teorias conspiratórias, golpes emocionais — todos esses elementos estão presentes em nossa cultura. Era inevitável que isso se tornasse matéria dramatúrgica”, afirma. Ele ainda acrescenta: “Trato temas áridos com humor porque o riso é uma estratégia de sobrevivência e também uma forma eficaz de retenção da atenção do público”.

Para Filipe Augusto, que também assina a tradução do texto, a encarnação de Alex convoca uma reconciliação com traumas que atravessam o corpo gay desde a infância: “Crescer com medo constante de rejeição e carregando a homofobia que internalizamos molda nossa forma de existir. A peça me obrigou a revisitar lugares delicados da minha história pessoal”, relata. O ator observa ainda que a necessidade de reconhecimento, tema central da obra, é inseparável da tensão entre desejo e exposição nas plataformas digitais: “Me interessa esse lugar de quem quer ser visto, mas teme o julgamento. Isso diz muito sobre todos nós”.

Serviço:

• Fumaça
• De 22 de novembro a 7 de dezembro de 2025
• Sábados às 20h e domingos às 19h
• Ingressos: R$100 (inteira) e R$50 (meia)
• Ágora Teatro — Rua Rui Barbosa, 664, Bela Vista, São Paulo
• Vendas: Sympla