por Redação MundoMais
Quinta-feira, 27 de Novembro de 2025
O documentário “Apolo”, codirigido por Tainá Müller e Isis Broken, chega aos cinemas nesta quinta-feira, 27 de novembro, como um marco no cinema nacional. O filme acompanha a gravidez de Lourenzo Gabriel, homem trans, vivida ao lado de Isis Broken, mulher trans e mãe da criança que batiza o documentário. A obra se propõe a ser tanto um registro histórico e uma carta de amor para o filho, quanto uma exposição das transfobias institucionais enfrentadas por parentalidades trans no Brasil.
Antes de sua estreia nacional, o documentário já acumulou prestígio, sendo premiado como Melhor Documentário e Trilha Sonora Original no Festival do Rio, e recebendo o Melhor Filme pelo júri popular e menção honrosa do júri oficial no Festival MixBrasil.
Barreiras e Lutas no Pré-Natal
Lourenzo, que inicialmente não acreditava na possibilidade de gerar uma vida dentro de si devido a mitos na comunidade trans sobre esterilidade após a hormonização, enfrentou desde o início um “surto de disforia” ao precisar interromper a testosterona.
As barreiras durante o pré-natal se revelaram sistematizadas tanto no sistema público quanto no particular. O casal encontrou:
O uso recorrente do nome morto de Lourenzo, mesmo em situações de urgência.
Exames ginecológicos desnecessariamente invasivos e a negativa em realizar o ultrassom morfológico em clínicas particulares.
A alteração do gênero de Lourenzo para feminino nos sistemas de saúde para liberar consultas, demonstrando uma tentativa constante de “enquadrar biologicamente” seu corpo.
Isis, que nunca havia se imaginado mãe por falta de referências de mães travestis, também relatou episódios de violência, como a exigência de “provar de forma biológica” sua identidade em clínicas e a desumanização.
Lourenzo Gabriel e Isis Broken com Apolo, filho do casal que batiza o documentário dirigido por Isis e Tainá Muller.
O Legado de “Um Presente do Entendimento”
O acolhimento, no entanto, foi encontrado na rede pública, especificamente no Dr. Emmanuel do Ambulatório Trans da UBS Santa Cecília, em São Paulo. Lourenzo o descreve como um profissional que trata pessoas trans com a “naturalidade” que deveria ser o básico.
Ao dedicar o filme ao filho Apolo, Lourenzo e Isis enviam uma mensagem poderosa: “Não tenha medo de ser quem você é, seja você quem você for”.
“A Isis diz que esse filme é um ‘presente do entendimento’ para ele. Fizemos para que ele saiba de onde veio, quem somos nós e como foi a luta para ele nascer. Vai servir para ele formar a própria opinião e, como a Tainá falou, para ser uma ‘arma’ para ele se defender da sociedade,” explica Lourenzo.
A dupla espera que o público, especialmente o público cis, saia da sessão sentindo a palavra-chave que resume a obra: humanidade. “O filme mostra que não existe um único jeito de ser. O ‘presente do entendimento’ que fizemos para o Apolo acaba sendo um entendimento para todo mundo”, conclui Isis.