por Redação MundoMais
Segunda-feira, 19 de Março de 2018
A revolta e a indignação pelo assassinato da vereadora Marielle Franco, na última quarta-feira, chegaram ao mundo da música pop e ao palco da Praça da Apoteose na noite deste domingo. A cantora americana Katy Perry fez uma homenagem a Marielle na música “Unconditionally”, exibindo uma foto da ativista carioca no telão. Katy também recebeu a irmã de Marielle, Anielle Franco, e sua filha, Luyara Franco, no palco, e no camarim, antes da apresentação. A música veio em um bloco do espetáculo chamado “Introspective”, de músicas mais tristes e reflexivas.
"Não importa de onde você vem, se das favelas ou das partes ricas da cidade, não importa quem você é, quem você ama ou a cor da sua pele. Esta música é para você, sobre amor incondicional", disse a cantora.
Alguns gritos de “Marielle presente!” já eram ouvidos antes da canção. Uma fotografia de Marielle surgiu no telão por trás de Katy, quando ela cantava o refrão, que diz “Vou amar você incondicionalmente”. Ao fim da música, ela chamou Anielle e Luyara ao palco. Recebidas com gritos de “Justiça!”, as duas não contiveram as lágrimas.
"Podemos fazer um momento de silêncio para Marielle?", pediu Katy, após abraçar as duas. "Só queremos dizer que nós, da minha turnê, e dos Estados Unidos, estamos ao seu lado, olhamos por vocês, e amamos vocês.
Do palco, o choro se espalhou pela plateia.
"Você vai manter a luz dela brilhando, brilhando muito" - disse à Luyara, antes de se virar para o público. "Vocês têm o poder!"
Anielle e Luyara contaram o encontro com a cantora. "Ela soube do crime ontem (sábado), em São Paulo, quando foi ao Museu Afro Brasil (no Ibirapuera) e quis prestar essa homenagem", disse Anielle, que tem tomado as rédeas da luta política da irmã. "Não é política, é uma questão de humanidade. O caso já é global, até o Papa Francisco falou a respeito. A Katy falou que a morte da minha irmã vai iniciar uma revolução, que ela sempre será lembrada."
Luyara contou que a mãe gostava da música de Katy Perry.
"Ela não era muito boa no inglês, mas tentava cantar, principalmente “I kissed a girl”, porque tinha a ver com ela, né?", disse Luyara.
A arquiteta Monica Tereza Benício ainda tenta aceitar a perda de sua mulher, com quem vivia por 12 anos. Em entrevista emocionada ao Fantástico, interrompida várias vezes pelo choro, relembrou a relação com Marielle, os planos interrompidos e o momento em que recebeu a notícia trágica.
Ela diz que sua companheira estava feliz e despreocupada, não falava em ameaças ou se sentia em risco. As duas planejavam se casar em setembro do ano que vem e já tinham começado, aos poucos, os preparativos.
A arquiteta ainda tenta aceitar o que aconteceu. "Eu ainda não consigo acreditar que ela não vai voltar pra casa. Eu ainda não consigo entender por que fizeram isso com ela."
Morta com quatro tiros na cabeça na última quarta-feira, a vereadora do PSOL Marielle Franco, de 38 anos, expunha nas redes sociais sua luta contra o racismo e a violência, em especial contra jovens e mulheres.
Crítica da intervenção militar no Rio de Janeiro, denunciava os abusos da polícia. Um dia antes de ser assassinada, a vereadora questionou ações da PM.
Nascida e criada na Maré, Marielle também defendia a visibilidade lésbica - tema que lhe motivou a apresentar um projeto de lei na Câmara do Rio -, o acesso à educação e à saúde de qualidade.
No Twitter, Marielle explicou porque concentrava seus ataques contra a violência policial e miliciana, mas não criticava traficantes. "Do tráfico não se cobra a lei e o respeito. Eu cobro essa postura é do Estado". E ainda insinuou, em setembro do ano passado, que havia traficantes em apartamentos de luxo em Brasília e no Leblon.
Também mostrou indignação pelo fato de um tiroteio na Zona Sul do Rio que durou três horas ter tido mais destaque na mídia que seis meses de confrontos diários entre polícia e traficantes na Rocinha. "Onde mora sua comoção?", questionou.
Dos 16 projetos de lei que apresentou, oito eram individuais e a outra metade assinou com colegas da Câmara do Rio.
Um deles, que apresentou sozinha, propunha instituir o "dia da luta contra a homofobia, lesbofobia, bifobia e transfobia" no calendário do Rio e o "dia da visibilidade lésbica". Também propôs incluir o "dia da mulher negra".
Uma outra proposta da vereadora previa incluir cartazes em lugares visíveis nos serviços públicos de atendimento às mulheres, informando dos direitos das vítimas de violência sexual.