por Redação MundoMais
Quinta-feira, 08 de Novembro de 2018
Ainda antes do primeiro turno das eleições, grupos de advogados, defensores públicos e autônomos começaram a criar observatórios próprios e estratégias não só para monitorar casos de violência contra população LGBT, mas também para acolher vítimas neste período.
Alguns deles, como o Mães Pela Diversidade, a Rede Nacional de Operadores de Segurança Pública LGBTI (Renosp) e a Aliança Nacional LGBTI+, seguiram atuando e se fortaleceram após a eleição de Jair Bolsonaro, a quem se atribui muito do discurso de ódio relatado hoje pela comunidade.
A Aliança Nacional LGBTI+ criou um canal de denúncias e havia recebido até a semana passada 41 relatos, 33 deles de pessoas da comunidade LGBT que disseram ter recebido agressões verbais ou físicas de apoiadores do presidente eleito.
"Precisamos de material e provas concretas de que o índice de violência contra LGBTs tem aumentado", justifica Toni Reis, presidente da associação.
Segundo Toni, a cada três meses, instituições como Ministério Público Federal (MPF), Ministério do Direitos Humanos (MDH) Anistia Internacional e Human Rights Watch receberão um relatório a partir dos dados coletados.
"Esse canal surgiu no período eleitoral, mas será permanente. Essa foi a forma que a gente também encontrou de pressioná-los [as instituições] e mostrar que é preciso olhar para o que acontece com a população LGBT mesmo fora do período eleitoral", explica.
Em dois casos mais graves, em que morreram a travesti Priscila, em São Paulo, e a transexual Laysa Fortuna, em Aracaju (leia mais abaixo), testemunhas disseram ter ouvido os agressores falarem o nome de Bolsonaro. Segundo o G1, a polícia concluiu o inquérito sobre a morte de Priscila e descartou a possibilidade de motivação política. O caso de Laysa segue sob investigação.
Segundo relatório recente da FGV (Faculdade Getúlio Vargas), comentários sobre agressões por motivação política geraram 2,7 milhões de postagens desde o início do segundo turno, contra 1,1 milhão nos 30 dias anteriores à eleição.
Armando Villa Real Filho, de 28 anos, foi preso acusado de matar a travesti Priscila, de 25 anos, no dia 16 de outubro, no Largo do Arouche, em São Paulo. Segundo o G1, a polícia concluiu o inquérito e descartou a possibilidade de relação com motivação política. Ele foi indiciado por homicídio qualificado por motivo fútil. Antes da conclusão da polícia, duas testemunhas haviam dito ter ouvido ofensas verbais contra a travesti e gritos de "Bolsonaro" e "ele sim".
Laysa Fortuna, mulher transexual de 25 anos, foi agredida e esfaqueada no dia 18 de outubro, no Centro de Aracaju, em Sergipe. Devido aos ferimentos e hemorragia, ela sofreu uma parada cardíaca e morreu no dia seguinte (19) no Hospital de Urgência Sergipe (Huse). Assim como no caso de Priscila, testemunhas disseram que o agressor teria discutido com várias transexuais que estavam no local, repetindo o discurso de ódio e citando o nome de Jair Bolsonaro. O caso segue em investigação pela polícia.
Evorah Cardoso, advogada e integrante do coletivo Acode, criado e lançado para atender e orientar as vítimas deste tipo de violência avalia que "existe um paralelismo entre as agressões que as pessoas estão sofrendo e o quanto esses agressores se sentem legitimados por um discurso de ódio discriminatório que tem sido proferido por políticos. A relação existe."
Logo após o resultado que confirmou sua ida ao segundo turno, Bolsonaro lamentou os episódios de violência, mas negou ter responsabilidade. "Quem levou a facada fui eu. Se um cara lá que tem uma camisa minha comete um excesso, o que tem a ver comigo? Eu lamento e peço ao pessoal que não pratique isso, mas eu não tenho controle", disse na ocasião.