por Redação MundoMais
Sexta-feira, 01 de Março de 2019
GENEBRA – A ativista Mônica Benício, viúva de Marielle Franco, denuncia o Estado brasileiro na ONU e as tentativas de silenciar feministas. Num discurso no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em Genebra, nesta quinta-feira, ela lembrou que o crime cometido em 14 de março de 2018 "continua impune".
Em entrevista ao blog, Monica explicou que o objetivo de sua presença na ONU é a de "dizer ao mundo a conjuntura que existe no Brasil". "Marielle é um símbolo de todo o caos que temos vivido", disse.
A ativista não poupou críticas à chefe da pasta de Direitos Humanos no Brasil, a ministra Damares Alves. "No Brasil, jagunços tomavam conta de escravos. Homens negros tomavam conta de homens negros. Hoje, temos uma mulher na pasta de direitos humanos e da família, seja lá qual for essa família que eles estão tentando nos impor", criticou.
"Ela não me representa e não representa nenhuma mulher que tenha o objetivo de ser livre no Brasil", afirmou.
No início da semana, Damares ignorou o caso de Marielle ao passar pela ONU. Apesar de insistir que quer defender os ativistas de Direitos Humanos, um dos principais casos mencionados pela ONU ao longo dos últimos meses – o assassinato de Marielle Franco – não foi citado pelo governo brasileiro.
Na avaliação da ministra, o local não era adequado. "Nós temos outros casos no Brasil. Por que citar tão somente o caso de Marielle? Poderíamos fazer uma lista", declarou. "Não era um ambiente de prestação de conta do caso Marielle. O recado que queríamos mandar é que os defensores de Direitos Humanos estão sendo protegidos no Brasil", garantiu. Relatores da ONU já criticaram em diversas ocasiões a ausência de uma ação do Estado brasileiro para proteger ativistas.
Nesta quinta-feira, ao blog, Monica deu sua resposta. "É profundamente equivocado e burro a colocação que ela faz e lamentável", disse. "Ela (Damares) não consegue entender porque Marielle é um símbolo de uma transformação social que precisamos com urgência no Brasil. Não é porque ela era minha companheira ou por ser especial, mas por ser uma pessoa política, a ministra deveria entender que Marielle representa uma pauta de Direitos Humanos fundamental", afirmou.
"Marielle era vereadora, negra, favelada, lésbica. No seu corpo, representava todas suas pautas. Por isso é um símbolo, não por ser uma pessoa querida. Ela (Damares), como ministra de Direitos Humanos, deveria saber disso", insistiu.
Monica fez questão de explicar que um de seus objetivos na ONU é o de dizer ao mundo que não é porque há uma mulher na pasta de Direitos Humanos que ela representa os interesses das mulheres no Brasil. "Ela (Damares) não me representa e acredito que não representa a maioria das mulheres no Brasil", disse.