por Redação MundoMais
Sexta-feira, 22 de Março de 2019
Cerca de 20 cidadãos brasileiros receberam ordem de deixar o país – que oferece tratamento de ponta, mesmo para imigrantes irregulares.
O governo francês vem emitindo ordens de expulsão a vários soropositivos originários da América do Sul que vivem há vários anos na França, boa parte deles transexuais. Entre as nacionalidades principalmente visadas estão cidadãos do Brasil, Peru, Argentina e Equador. Segundo a associação Autres Brésils, uma pessoa transexual já foi reenviada ao Brasil e outra está em vias de expulsão, entre os cerca de 20 cidadãos brasileiros que receberam ordem de deixar o solo francês.
“Fiquei sem entender. Como que uma pessoa que mora aqui há quase dez anos pode receber uma carta para deixar o território em 30 dias? Isso desabou o meu mundo!”, conta Mônica, de 40 anos, transexual e trabalhadora do sexo.
A pernambucana de 40 anos chegou à França em 2009, onde recebeu um visto temporário de permanência na qualidade de “estrangeiro doente”, podendo receber tratamento gratuito contra o HIV. A doença foi contraída quando Mônica era adolescente, deixou a casa da família no interior do Estado e começou a se prostituir em Recife.
À RFI, ela contou que veio para a França na esperança de poder mudar de vida e pode usufruir do tratamento de ponta contra a AIDS que o país oferece, mesmo para pessoas em situação irregular. No entanto, em 2017, seu pedido de renovação de permanência na França foi rejeitado.
Na ordem de expulsão enviada pelo Ministério do Interior, a justificativa é que nenhuma atividade remunerada foi registrada nos anos de permanência da brasileira na França e que o sistema de saúde brasileiro também oferece tratamento contra o HIV. Mas Mônica contesta: “no Brasil não é igual aqui”.
Ela afirma que no Brasil o sistema de saúde não dá prioridade aos pacientes soropositivos. “Tive que esperar três meses para fazer uma ressonância magnética”, lembra Mônica, que também sofre com uma hérnia de disco. No hospital público de Ambroise-Paré, na periferia de Paris, a pernambucana recebe toda a assistência que necessita sem longas esperas, como manda o protocolo com as pessoas com HIV.
Desesperada, sua primeira reação foi se isolar em casa. Sem saber como agir, entrou em depressão, ganhou peso e viu sua imunidade baixar. Com a ajuda da associação parisiense de apoio aos transgêneros, trabalhadores do sexo e migrantes Acceptess-T, Mônica está recorrendo da decisão na Justiça e diz que vai fazer tudo o que for possível para permanecer na França. A pernambucana também teme ter que voltar ao Brasil em um momento em que a violência contra a comunidade LGBT está em aumento.
“Todas nós, o que queremos, é um trabalho. Essa vida de trabalhadora de sexo não é fácil. Mas, infelizmente, dependemos disso para sobreviver. Não falo apenas por mim, mas por muitas amigas que querem essa mudança na vida, que querem apenas um trabalho aqui”, diz.