por Redação MundoMais
Terça-feira, 20 de Agosto de 2019
O governo Jair Bolsonaro deve publicar nesta terça-feira (20) uma portaria suspendendo edital para a seleção de produções audiovisuais para a televisão. Publicado no último dia 13, documento, que prevê a categoria “diversidade de gênero”, foi criticado pelo presidente por incluir produções com temática LGBT.
Na semana passada, em live no Facebook, Bolsonaro atacou a produção de obras audiovisuais com temáticas LGBT e diversidade sexual, que buscavam autorização da Ancine (Agência Nacional do Cinema) para captar recursos por meio da Lei do Audiovisual.
Na live, o presidente ainda afirmou que a agência não vai liberar verbas para esses projetos e disse, também, que se a Ancine “não tivesse, em sua cabeça toda, mandatos”, já teria “degolado tudo”.
A previsão é de que a suspensão do edital, que direciona verba a essas produções, tenha duração de seis meses. Porém, existe a possibilidade de ser prorrogada por mais seis meses.
A nova portaria também dá ao governo tempo para reformular o comitê gestor do Fundo Setorial do Audiovisual. Com isso, será possível garantir que haja maior controle dos projetos que recebem recursos públicos.
Após a declaração do presidente, a API (Associação de Produtores Independentes do Audiovisual) se pronunciou, afirmando que o ato do presidente visa “censurar arte, projetos audiovisuais e filmes”.
“Repudiamos tal atitude, pois entendemos que não cabe a ninguém, especialmente ao presidente de uma república democrática, censurar arte, projetos audiovisuais e filmes”, disse a organização por meio de nota.
Ao atacar as produções, Bolsonaro negou que sua ação é de censura. “Não censurei nada. Quem quiser pagar, se a iniciativa privada quiser fazer filme de Bruna Surfistinha, fique à vontade, não vamos interferir nisso daí”, disse.
“Mas fomos garimpar na Ancine filmes que estavam prontos para captar recursos no mercado. E outra, provavelmente esses filmes não têm audiência, não têm plateia, tem meia dúzia ali, mas o dinheiro é gasto. Olha o nome de alguns, são dezenas”, continuou o presidente em live no dia 16 de agosto.
Em seguida, ele citou produções como a série documental de cinco episódios Transversais, de Allan Deberton sobre transexuais no Ceará; Afronte, longa-metragem universitário de Bruno Victor Santos e Marcus Azevedo, sobre a vida de jovens homossexuais negros no Distrito Federal, além de fazer menção a Religare Queer e O Sexo Reverso, outras produções na mesma temática.
“Um filme chama Transversais. Olha o tema: ‘Sonhos e realizações de cinco pessoas transgêneros que moram no Ceará’. Conseguimos abortar essa missão”, disse. Sobre Afronte, ele disse confessar que “não entendi nada”.
"Afronte", longa-metragem de Bruno Victor Santos e Marcus Azevedo, mostra a vida de jovens homossexuais negros no Distrito Federal.
E, em seguida, disse, ainda se referindo à produção do Distrito Federal, que este é mais um “filme que foi para o saco”.
“Olha, a vida particular de quem quer que seja, ninguém tem nada a ver com isso, mas fazer um filme mostrando a realidade vivida por negros homossexuais no DF, não dá para entender. Então, mais um filme aí, que foi pro saco, aí. Não tem cabimento fazer um filme com esse enredo né?”.
As obras audiovisuais que o presidente disse “abortar” estão entre as finalistas da linha de “diversidade de gênero” do edital aberto em 2018 para produções que serão transmitidas por TVs públicas.