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Homens acusam assistente de João de Deus de abuso sexual

Tião de Lima nega todos os relatos e afirma que, assim como as acusações contra o ex-chefe, as denúncias não passam de "oportunismo".

por Redação MundoMais

Quinta-feira, 14 de Janeiro de 2021

“Ele me fez abrir a calça, subir na maca e colocou um lençol sobre meu corpo. Tirou meu pênis e começou a tentar me masturbar. E, enquanto isso, ele rezava. Rezava e dizia que ia me curar.” Dois anos depois de virem à tona as primeiras denúncias de assédio sexual que levaram João de Deus para a cadeia, uma nova onda de vítimas vem a público: homens afirmam ter sido abusados sexualmente pelo braço direito do líder místico, Sebastião de Lima, que, por quase quatro décadas, atuou ao lado de João na Casa de Dom Inácio de Loyola, onde era conhecido como Tiãozinho.

Quatro indivíduos disseram ter sofrido assédio sexual dentro da Casa, o centro místico que João de Deus fundou em Abadiânia (GO) no fim da década de 1970 - e que chegou a sustentar 100 hotéis e pousadas com o fluxo de turistas que atraía para a cidade. Três ex-funcionários da Casa confirmam que os assédios aconteceram e que, durante as décadas de 1990, 2000 e 2010, foram comentados entre sussurros por quem trabalhava ao lado do líder místico.

Tião de Lima nega todos os relatos, e afirma que, tanto as acusações contra ele quanto as das mais de 300 mulheres que vieram a público falar sobre os assédios cometidos por João Teixeira de Faria, são “oportunismo”.

Os quatro ex-fiéis que relataram os abusos feitos pelo assistente direto de João de Deus não se conhecem, e são de regiões diferentes do Brasil. Apenas um deles aceitou ter seu nome publicado, e outro consentiu que seu relato em áudio fosse usado nesta reportagem, que consumiu cinco meses de investigação.

João de Deus (ao centro) e seus auxiliares: João Preto (esquerda) e Tiãozinho (direita).

“Ele tinha a chave pro paraíso”

Tiãozinho é um homem branco e corpulento, de cabelos pintados de preto que lembram o penteado e a tintura preferidos de João Teixeira de Faria. Ele foi um dos primeiros seguidores a se mudar com Teixeira para Abadiânia – uma cidade entre Brasília e Goiânia, que então tinha pouco mais de 3 mil habitantes.

Com o passar dos anos, João foi ganhando seguidores em todo o Brasil, recebeu o apelido “de Deus” e formou uma legião de milhões de turistas que visitavam Abadiânia. O poder de Tiãozinho cresceu conforme a expansão da Casa.

Como assistente de João Teixeira, era ele quem organizava a fila de pessoas que iam à cidade em busca de cura, e diariamente despachava com o chefe. Tiãozinho tinha sua própria sala na Casa Dom Inácio, conhecida informalmente como Secretaria, já que ele era o secretário do centro místico – por mais de 20 anos foi a segunda pessoa mais poderosa do local.

O poder de decidir quem teria um encontro presencial com João de Deus fazia com que Tiãozinho fosse visto como o braço direito do líder místico. E, segundo o relato, era com esse poder que ele se aproximava de homens e fazia investidas sexuais, que, levadas adiante sem consentimento, caracterizam crime.

Pátio da Casa Dom Inácio de Loyola

Nos primeiros dias de 2014, Marcus* (nome fictício) chegou a Abadiânia. Na época, era estudante universitário e estava em busca de cura. Tinha recebido meses antes um exame positivo para o vírus HIV e escutado que João de Deus afirmava ter curado mais de 300 pessoas do vírus – o que é mentira, pois não há registro de cura do vírus HIV, com exceção de alguns estudos médicos ainda em curso, todos a milhares de quilômetros de Abadiânia.

Mesmo sabendo que ainda não há cura, Marcus foi à Casa com esperança de que o vírus pudesse ser eliminado do seu corpo por milagre. Esperou mais de duas horas para ficar diante de João de Deus e, depois de ter sido visto pelo líder místico, não sabia mais o que fazer. Assim conheceu Tiãozinho.

“Você sai confuso da consulta, ali, entre aspas. Eu não sabia mais o que tinha de fazer, se eu podia ir embora ou tinha de voltar.” Marcus então encontrou Tiãozinho e perguntou onde era o banheiro. Ele afirma que Tiãozinho não só explicou onde era o toalete como o acompanhou.

“Achei que ele ia embora, mas entrou comigo e foi no mictório ao lado. Nesse momento, ele pediu para ver o meu pênis, quis mostrar o dele e veio com intenção de pegar no meu. Todo sem jeito, eu falei que não era lugar.”

Marcus* narra que Tiãozinho o seguiu depois que saiu do banheiro, e o convidou para tomar uma sopa que era servida de graça no refeitório para os funcionários da Casa. “Eu topei porque ele era uma pessoa importante lá dentro. Porque disse que ia me ajudar no meu tratamento.” Depois do almoço, Marcus afirma que Tião o levou para a sua sala reservada, a Secretaria. “Ele tentou me beijar, quis que eu pegasse no pênis dele. Eu disse que alguém poderia chegar, e saí. Estava assustado porque era muito próximo de onde as pessoas estavam ali, comendo.”

Planta baixa da Casa Dom Inácio de Loyola

Depois de ter recusado a investida sexual de Tião, Marcus afirma que ouviu dele: “De tarde você volte, que a gente vai fazer o tratamento espiritual lá dentro”. Horas depois, o secretário da Casa o levou para dentro da Enfermaria, uma sala onde ficavam em repouso os pacientes que eram operados com faca de cozinha por João de Deus.

Os dois entraram pela porta de saída, sem passar pela sala onde João operava, e Marcus foi conduzido para uma maca, rente à parede.

“Ele colocou um lençol branco por cima e explicou que o tratamento teria que ser feito pelo órgão sexual, a cura seria feita por ali, porque foi ali que o vírus entrou. Como ele ficou muito encostado na maca, ninguém percebeu o que ele estava fazendo. Ele disse: ‘Abre sua calça devagarinho, que eu vou precisar segurar o seu pênis para realizar o seu tratamento, porque foi por onde você se contaminou, então vai ter de ser por onde vai ser feita a cura, a limpeza, o tratamento.’ Ele ficou segurando o meu pênis, não lembro por quanto tempo, mas disse que eu precisaria ficar em prece o tempo todo.”

Tiãozinho partiu e Marcus ficou na maca, em prece, por mais de uma hora.

Antes de ir embora de Abadiânia, Marcus afirma ter ouvido de Tiãozinho: “Pelo caminhar do seu tratamento, você pode se considerar curado”. Quando voltou para sua cidade, foi se consultar com a infectologista com quem se tratava. “Ela me deu um esculacho, com toda a razão, e disse que não ia pedir um novo exame [de HIV], porque isso seria duvidar da ciência.”

Marcus foi até um laboratório do SUS e fez outro exame. “A psicóloga me chamou e disse que deu positivo. Perguntou se eu tinha consciência, e expliquei tudo para ela. Eu tinha consciência.”

Três dos homens que descreveram os abusos são soropositivos, e procuraram João de Deus na esperança de se livrar do vírus HIV. Assim como acontece no relato de Marcus, sua sorologia era usada como pretexto para chegar aos seus órgãos sexuais.

É o caso do agente de viagem Felipe Dias, que foi a Abadiânia quatro vezes, entre 1994 e 2000. Na última visita, ele afirma ter sido assediado por Tiãozinho, assim que saiu de uma “cirurgia” espiritual com João de Deus.

“Eu esperei na fila por mais de uma hora. Daí, o ‘Seu’ João colocou a mão sobre o meu rosto e disse que eu estava operado. Saí da sala da Entidade [onde João Teixeira recebia o público, sentado em um trono], rezei por uns minutos e depois fui para o pátio. Foi lá que o Tiãozinho se aproximou. Me pegou pelo braço, me levou para a sala dele e disse: ‘Vou te ajudar com o prosseguimento do seu tratamento’. Dentro da sala, ele chegou perto de mim e, enquanto falava sobre o tratamento, pegou na minha virilha e pediu para ver. Para ver o que tinha lá dentro. Ele então colocou a mão dentro da calça. Eu me afastei, perguntei o que aquilo tinha a ver com o tratamento. Ele disse que eu precisava daquilo.”

Dias afirma que, no momento do assédio relatado, ficou confuso, e quase permitiu que o homem o tocasse contra sua vontade. “Ele era a pessoa que tinha acesso ao ‘Seu’ João. Ele tinha a chave para o paraíso”, diz. Felipe nunca mais voltou a Abadiânia.

Outros dois homens, que pedem que seus nomes sejam preservados, relatam experiências parecidas, acontecidas na década de 2000. Ambos afirmam que Tiãozinho os levou para o escritório dele, que ele passou a mão em suas virilhas e tentou beijá-los, dizendo que aquilo era tratamento. “Ele disse que não era viadagem, que era tratamento. Porque ele não era viado, era casado e tinha filhos.”

Um ex-funcionário, que trabalhou na Casa por 10 anos e optou por não se identificar, afirma que também passou por uma tentativa de assédio sexual: “O Tiãozinho tentou comigo, mas não conseguiu o que queria”.

O rumor de assédio não é assunto inédito para quem viveu a realidade da Casa Dom Inácio de Loyola nos anos 1990, 2000 e 2010. Tesoureiro da Casa na década de 2000, Clodoaldo Turcato diz: “Na época em que estive na Casa, próximo ao médium João, eu ouvi de pessoas próximas e pacientes sobre a homossexualidade de Tiãozinho. Como eu nunca tive menor diferença quanto à opção sexual das pessoas, nunca me aprofundei. O que me incomodou foi saber, por outros, que Tiãozinho assediava homens no banheiro, principalmente, e na sala dele. Nunca tive maiores detalhes de como isso ocorria, apenas ouvi falar.”

Outro lado

Sebastião de Lima, o Tiãozinho, nega todas as acusações de assédio. Em uma conversa de uma hora em sua casa, em Anápolis (GO), e depois por e-mail enviado por seu advogado, Jorge Barbosa Lobato, ele classifica os relatos de “alegações vazias, sem nenhum respaldo fático, e indignas de credibilidade”.

14-01-2021 às 21:51 Sui generis
Numa relação tem que haver confiança. Relações de casais. Agora, relações humanas, sempre com um pézinho atrás! Corpulento é outra coisa, isso aí é sedentarismo e horror de feiúra. Um homem robusto, forte, guarda-roupa e gostoso. E sim podemos chamar de corpulento.
14-01-2021 às 17:23 Jackson
maldito o homem que confia no homem
14-01-2021 às 12:57 Vagalumi cu pisca pisca.
Só tenho a dizer............................NOJO/RANÇO, desse tal João, que de Deus, não tem nada! Servo/filho de satã com certeza! Só de olhar para a fuça desse João, me da vontade de vomitar!!!