ASSINE JÁ ENTRAR
Assine o MundoMais - promoção

'Medo da violência': trans vence plano na Justiça pra fazer cirurgia facial

Tribunal de Goiás entendeu que não se tratava de uma necessidade estética; ainda cabe recurso.

por Redação MundoMais

Terça-feira, 06 de Maio de 2025

Uma servidora pública de Goiás, que não quis se identificar, ganhou na Justiça o direito de fazer uma cirurgia de feminização facial pelo convênio médico. Na metade de abril, o TJ-GO (Tribunal de Justiça do Estado de Goiás) decidiu que a Ipasgo Saúde, plano de assistência médica da mulher, deveria custear os procedimentos da paciente. A empresa ainda pode recorrer.

No processo, ao qual Universa teve acesso, o Tribunal entendeu que os procedimentos solicitados pela paciente não eram apenas estéticos, mas reparadores e funcionais, como parte complementar da cirurgia de redesignação sexual, procedimento cirúrgico realizado no homem e na mulher trans a fim de tornar o órgão genital o mais parecido possível com o órgão típico do gênero identificado.

"Sob esse contexto, tem-se que a negativa de cobertura das despesas relacionadas à feminização facial equivaleria à frustração da conclusão do processo de redesignação sexual, considerando que aquele procedimento é intrínseco a este", afirmou o relator do caso, o juiz Ricardo Prata, no processo. Em nota, a Ipasgo Saúde disse que a decisão "não é terminativa" e que está avaliando "as alternativas técnicas e jurídicas".

Há mais de um ano, com o processo aberto na Justiça, a servidora pública conta a Universa por que decidiu ir atrás da cirurgia. Leia o relato abaixo:

"Não basta me sentir mulher apenas para mim mesma. Sou uma mulher trans de 39 anos e, perto dos meus 20 anos, fiz todo meu processo de transição de gênero. Para mim, era importante passar pela redesignação sexual — mas é importante falar que nem todas as mulheres trans desejam isso.

Fiz outras intervenções no meu corpo depois, como colocar próteses mamárias, além de retificar todos os meus documentos. Mas o fato é que não basta eu me sentir mulher apenas para mim mesma — é claro que isso deve ser o motivo número um, mas a gente coexiste no mundo.

A gente se relaciona com as outras pessoas, a gente trabalha e estuda. E como as outras pessoas nos veem é muito importante nesse processo. Aliás, no trabalho, isso já foi um fator impeditivo, por mais que tivesse capacidade e habilidade para exercê-lo. Quando coloco desta forma, fica parecendo que é uma questão apenas estética. Mas isso vai além, é uma questão também estrutural. Tenho um conjunto de características físicas que me colocam em lugar de estereótipo, que pode me trazer situações de violências.

Hoje, isso pode ter diminuído um pouco, mas, por exemplo, quando vou em um banheiro público, tenho medo de sofrer violência, de não ter o direito de usar esse espaço. Várias oportunidades de trabalho já me foram negadas pela minha identidade de gênero. E tem ainda as relações de afeto, para além da família. Uma pessoa que se relaciona com um homem ou mulher trans pode sentir essa violência também.

Então, o que me motivou a fazer a cirurgia vem deste lugar, de como eu sou vista socialmente. Não basta só eu me reconhecer neste lugar de mulher, repito. Preciso que as pessoas também me reconheçam como tal."

07-05-2025 às 10:04 Brigido 100% Ativa!!!
A essa mana...........Muita Sorte/Luz.