‘Fiz uma Tieta com alma gay’, diz Betty Faria ao relembrar novela de 1989

Betty Faria, intérprete da protagonista de “Tieta”, revisitou a personagem durante homenagem recente da marca Misci, em São Paulo, e comentou o impacto da novela, originalmente exibida em 1989, agora reprisada no “Vale a Pena Ver de Novo”.

Segundo a atriz, Tieta continua despertando interesse do público, o que a surpreende diante do atual cenário sociopolítico: “Fiquei encantada com esse retorno. Me pergunto por que estão gostando tanto dela, tão rebelde, dado este mundo cada vez mais tradicionalista. A geração atual é muito reprimida, então me surpreendi”, disse à Folha.

Faria declarou que compôs a personagem com base em princípios de liberdade e respeito às diferenças. “Foi um presente. Tieta traz esperança, liberdade, fala de respeito às diferenças. Ela tinha uma amiga, Ninete, personagem de Rogéria, que era trans. Minha personagem era abaixo ao preconceito. Fiz uma Tieta com alma gay”, disse ao repórter Luis Guilherme.

A atriz se referia à emblemática cena em que Tieta defende Ninete de ataques transfóbicos vindos de Ricardo, seu sobrinho e também amante, interpretado por Cássio Gabus Mendes. Em diálogo com ele, Tieta rebate o moralismo religioso: “Gente, é só pra isso que sexo serve? Pra multiplicar? Então, a gente vai pra cama só pra reproduzir? É isso, Cado? Não vai pra ter prazer? Cada um que encontre sua maneira de amar, de ter prazer, de viver. Só porque não é igual a tua maneira, tu vai achar que tá errada? Se tu não entende, tu julga, vai julgar e vai condenar? Abra o seu coração, a sua cabeça.”

Na adaptação televisiva da obra de Jorge Amado, a trama acompanha a trajetória de Tieta, que é expulsa de casa pelo pai, Zé Esteves, sob influência da irmã mais velha, Perpétua. Anos depois, ela retorna à cidade natal, Santana do Agreste, transformada por sua experiência como empresária em São Paulo, onde enriqueceu. Sua chegada desestabiliza a rotina da cidade, dominada por valores religiosos e patriarcais.